sábado, 3 de outubro de 2009

Em Maringá, casa dos Campos resiste ao tempo

Primeira casa em alvenaria da cidade, após 60 anos a residência da família Campos mantém-se preservada como um símbolo do pioneirismo em Maringá



O DIÁRIO DE MARINGÁ, 3 de outubro de 2009

Maringá ganhou sua primeira casa em alvenaria em uma época em que ainda não tinha engenheiro nem construtor, o centro ainda era um ou outro casebre e a maioria dos bairros estava apenas no papel. Não tinha também boa parte do material necessário para a construção.

Isso foi há 60 anos, e se na época a primeira casa de alvenaria foi considerada uma mansão, ainda hoje é um exemplo de casa bem projetada e arranca elogios por sua beleza. A diferença é que a casa, que era a única em um bairro, em meio a um descampado e na divisa com a mata virgem, hoje está cercada por arranha-céus e alguns dos mais importantes estabelecimentos comerciais.

O ano era 1949 quando correu a notícia de que alguém havia encomendado 35 metros cúbicos de pedra bruta para fazer um alicerce e grande quantidade de tijolos e telhas à cerâmica de Valdemar Barbudo. “Quem será esse ricaço”, perguntavam. O ricaço era o agente de terras Milton Gonçalves Campos, que recebia a generosa comissão de 1% por toda terra que a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná vendesse entre Mandaguari e Guaíra.

Com a visão de que a cidade não se limitaria ao Maringá Velho e Avenida Brasil, ele comprou um terreno exatamente onde acabava a Zona 1, que depois passou a ser chamada de Centro, na esquina das ruas Luiz de Camões e Luis Gama. Não existia viva alma por perto. Aos fundos do terreno, um descampado, na frente, uma mata que ia até o Mato Grosso, como diz seu filho Emir Alan Campos seis décadas depois.

O projeto era ambicioso: 240 metros quadrados, para abrigar os 12 filhos do casal Milton e Antonieta Zorzi Campos. Mas, as dificuldades seguiam na mesma proporção: a cidade ainda não tinha engenheiro ou arquiteto e Milton teve que ir a Mandaguari encontrar quem assinasse a planta.

O engenheiro aceitou fazer o projeto, mas não quis arriscar fazer o teto como foi encomendado. O teto, cheio de reentrâncias e ângulos, foi idealizado pelo próprio Milton, que teve que se responsabilizar caso não desse certo; depois não tinha quem construísse.

A cidade ainda não tinha pedreiros, e Campos acabou se valendo do trabalho de um rapaz que trabalhava para a Companhia Melhoramentos; quase todo o material teve que vir de outros Estados, em uma época em que as estradas eram precárias.

A escada da entrada e a lareira foram construídas em mármore de Carrara vindo da Itália, seguindo projetos trazidos pelo desbravador do interior do Paraná Lord Lovat (Simon Joseph Fraser), um conde inglês que foi um dos principais responsáveis pelo povoamento do norte e noroeste paranaenses.

Com sua aparência de castelo, com porão, sótão e dutos para a passagem de ar, a casa ganhou uma espécie de bosque na frente, muro recortado – enquanto outras casas eram cercadas por balaustres –, um aquário com diferentes espécies de peixes ornamentais e passou a ser a casa dos sonhos dos primeiros maringaenses. Nos finais de semana, muitas pessoas desfilavam na frente para admirar a beleza da casa dos Campos.

Ali, Milton e Antonieta viveram todos os dias de suas vidas, criaram os 12 filhos, alguns hoje bastante conhecidos em Maringá, como Paulo Erasmo, proprietário da Lotérica Mina de Ouro, a advogada Wilmaley Campos, Emir Alan e Loidelane Campos, proprietária de uma academia de tênis.

Depois da morte do proprietário, houve um movimento para tombar a casa dos Campos ao patrimônio público, mas os herdeiros não aceitaram, até porque eles próprios têm a mansão, que leva o nome de Vivenda Antonieta, em homenagem à mãe, como um patrimônio que jamais será mexido.

Não há interesse em vender, é um monumento à memória do pioneiro que ousou acreditar no crescimento da cidade, que ousou dar à família uma casa à altura de sua dedicação, como diz o filho Paulo.

A pioneira e hoje centenária casa dos Campos continua impávida e chamando a atenção, em frente o Centro Português, onde funciona o Restaurante Baco.

Um comentário:

Anônimo disse...

amei saber a historia deste lugar que eu acho muito bem elaborado