sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Vereador de Londrina é investigado por suspeita de cobrar propina

FÁBIO SILVEIRA, Jornal de Londrina, 4 de setembro de 2009

Onze meses depois do eleitorado londrinense ter imposto uma mudança de dois terços na composição da Câmara Municipal, um vereador volta a ser investigado sob a suspeita de cobrar propina para votar leis. O alvo da investigação aberta pelo Ministério Público é o vereador Rodrigo Gouvêa (PRP), que já é investigado pela Promotoria de Defesa do Patrimônio Público, sob a suspeita de manter uma funcionária fantasma em seu gabinete – o que ele nega. Dessa vez, a investigação diz respeito à votação do projeto que se transformou na lei municipal 10.730/09, que possibilitou a participação do município no programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.

O JL teve acesso ao depoimento prestado ao MP no dia 20 de agosto pelo engenheiro Maurício Costa, da construtora Bonora e Costa, que diz ter sido abordado por Gouvêa fora do plenário com a pergunta “quanto vai sobrar para mim?”. Costa disse que “ficou indignado com a solicitação da vantagem econômica, o que motivou-o a contar para várias pessoas que encontravam-se na Câmara Municipal”. A abordagem teria acontecido no dia 23 de junho, quando o projeto de lei foi votado em primeira discussão. Gouvêa relata que o vereador o chamou “para fora do plenário, fechou a porta de vidro e questionou se ele se encontrava no Legislativo como empresário”. A pergunta “quanto vai sobrar para mim?” foi feita na sequência.

Em 21 de agosto, Costa, voltou ao MP dizendo que gostaria de “corrigir suas declarações”. Ele negou que tenha sido pressionado a voltar atrás no depoimento e afirmou “não ter certeza se após chamá-lo para fora do plenário Gouvêa perguntou ‘quanto vai sobrar para mim’” e que ficou “em dúvida quanto à frase dita pelo vereador. O resto do depoimento foi mantido.

Uma das pessoas que Costa disse ter procurado no plenário em 23 de junho foi o presidente da Câmara, José Roque Neto (PTB), o Padre Roque. No dia 24 de agosto, Roque foi chamado a depor no MP e confirmou ter ouvido de Costa o relato sobre o suposto pedido de propina feito por Gouvêa. O petebista relatou que a sessão foi suspensa para que o presidente da Cohab, João Verçosa, explicasse o projeto aos vereadores pontos referentes ao projeto, na sala da presidência.

“Quando os vereadores retornaram ao plenário, Maurício Costa pediu um minuto para conversar”, relata o depoimento de Roque. “Costa disse que o vereador Rodrigo Gouvêa perguntou a ele quanto levaria em dinheiro se votasse a favor do projeto”, completou o presidente da Câmara. Roque, que foi ao MP acompanhado de uma advogada, afirmou ter manifestado surpresa, mas que Costa insistiu, dizendo que o fato relatado era verdadeiro.

Procurado pelo JL para comentar o assunto, o promotor Renato Lima Castro foi evasivo. Ele não quis comentar o teor das investigações em andamento no MP.

“Tem que apurar”, diz vereador

O vereador Rodrigo Gouvêa (PRP) negou que tenha pedido propina para aprovar a lei que permitiu ao município a entrada no projeto Minha Casa, Minha Vida. “Esse cara é louco. O que é isso? Por essa luz que está brilhando aqui, esse cara é louco, ele é um irresponsável”, reagiu Gouvêa ontem à tarde, em entrevista concedida por telefone ao JL. “Tem que apurar isso, porque eu vou para cima desse cara. Eu não o conheço, não tenho ligação nenhuma, isso não existe”, completou. Gouvêa atribuiu a denúncia que deu origem à nova investigação contra ele a “um grupo muito forte” que teria interesse em derrubá-lo.

Procurado pelo JL, o presidente da Cohab, João Verçosa, que acompanhou a votação do projeto de lei, disse não ter presenciado essa situação. “O que teve foi muita polêmica”, declarou.

Maurício Costa foi procurado pela reportagem, que deixou recado na secretária eletrônica do seu telefone celular, mas não obteve retorno. O presidente da Câmara, José Roque Neto (PTB) não foi localizado no final da tarde porque estava em um velório. A reportagem deixou recado com a assessoria dele.

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