terça-feira, 22 de setembro de 2009

Com o Dia Sem Carro, Curitiba vive dia atípico de calmaria

Com os acessos fechados ao trânsito, data encheu de pedestres e ciclistas as ruas mais movimentadas da cidade

BEM PARANÁ, 22 de setembro de 2009

O centro de Curitiba amanheceu mais tranquilo hoje (22) no Dia Sem Carro. Com os acessos fechados ao trânsito, a Praça Tiradentes e todo seu entorno virou território de pedestres, ciclistas e transporte coletivo. Na Marechal Deodoro, onde em período de pico se concentram 3,3 mil carros em uma hora, as pistas, livres de carros se transformaram em espaço de feira livre. Em outras ruas bloqueadas, lazer, serviços e orientação de trânsito à população.

Às 7h, Levi José Zeni tomava um cafezinho, como faz com frequência, em uma lanchonetes na Marechal Deodoro. Aproveitou para admirar a tranquilidade de uma rua que ele conhece bem e defendeu a tese de que é possível viver bem usando menos o carro.

"Tem gente que pensa que não pode viver sem carro, mas não é bem assim. Eu sempre digo pro meu filho que ele deveria usar menos o carro", disse. Levi mora no Pilarzinho e também tem carro - que raramente usa para vir ao centro. "Trabalho aqui, passo o dia por aqui, então entro num ônibus perto de casa e não tenho preocupação com trânsito ou onde vou estacionar", contou.

Também na Marechal Deodoro, Sônia Maria Gonçalves organizava a banca de frutas e verduras que, excepcionalmente, vai funcionar no centro nesta terça-feira. Feirante, Sônia trabalha nas terças-feiras na Vila São Paulo. "Hoje vim para o centro e estou achando tudo muito bom", disse ela, para quem o dia sem carro poderia acontecer sempre. "Acho que tem gente que não iria gostar, mas poderia ser uma vez por mês, por exemplo". Com as ruas bloqueadas ao trânsito, acredita, a vida fica mais calma. "O trânsito é estressante", afirmou.

De bicicleta, o entregador de jornal Elias Freitas também comemorou a iniciativa. O dia mal estava começando e ele já estava com a entrega adiantada. "Vou ganhar no mínimo uns 20 minutos de tempo só nesta primeira hora", comemorou. Com o centro livre de carros, Elias pôde trafegar com tranquilidade para fazer seu trabalho. "Ontem levei mais de duas horas para conseguir fazer a região do centro. Hoje será bem mais rápido, com certeza", disse.

Auxiliar de produção de uma grande rede de farmácias, Carlos Alberto Barbosa, 26 anos, trabalha no Parolin, mas costuma passear pelo centro pela manhã, onde resolve seu dia a dia, indo a bancos, compras etc. A grande vantagem do dia sem carro, disse ele, é levar as pessoas a refletir sobre a questão ambiental. "A gente precisa reduzir a poluição e esse movimento é importante", disse ele. "Não sei se é o clima da manhã, se é esse sossego na rua, mas parece que o ar já está mais limpo por aqui", afirmou.

O presidente da Urbs, Urbanização de Curitiba S/A, Marcos Isfer, foi conferir, pouco depois das 6h, o início do Dia Sem Carro no centro da cidade. Chegou ao Centro de ônibus. "É um dia importante, um incentivo para refletir sobre o trânsito e a questão ambiental", disse. Isfer também pegou ônibus para ir ao trabalho.

Nesta terça-feira, 40 quadras de 15 ruas centrais foram bloqueadas ao trânsito, com a adesão de Curitiba ao movimento mundial do Dia Sem Carro, surgido na França em 1998 com o objetivo de conscientizar a população para a importância de reduzir a poluição ambiental.


Dia Sem Carro reforça responsabilidade do cidadão no trânsito

Curitiba luta nos últimos anos para não deixar que o trânsito sufoque a cidade. Mudanças estruturais têm andamento a partir de 2005, desde a proibição de estacionamento em ruas mais movimentadas, campanhas pesadas de educação, até a construção de um novo corredor viário, tudo para acabar com os gargalos no trânsito curitibano. Mas para quem trabalha para fazer funcionar o sistema, ainda falta a conscientização massiva dos motoristas. Esse é o grande legado que pode deixar mais uma edição do Dia Sem Carro em Curitiba, que acontece hoje.

Curitiba tem a maior proporção veículos por habitantes do País — 1,6 pessoa por veículo. São 1.125.866 registrados na Capital. Número que deve dobrar na próxima década, já prevêem as autoridades. O ritmo de crescimento da frota motora é maior que a da população, inclusive. Além de abrir mais espaço para esse contigente passar — um dever a que o município não pode se furtar — também há a necessidade de se retirar parte destes veículos da circulação diária.
“Tem que lembrar que a cidade veio primeiro para as pessoas, depois para os carros”, diz a coordenadora da Unidade de Educação e Mobilização da Urbs, Maura Moro. A unidade trabalha no momento a campanha de respeito à faixa de pedestres, mas até o final do mês deve receber cartilhas específicas para se trabalhar a educação no trânsito nas escolas municipais. As cartilhas são produzidas pelo Conselho Nacional de Trânsito (Denatran).

“Hoje a mobilidade é vista só para o fluxo de carro. Mas mobilidade é transversal. Não se trabalha a mobilidade sem trabalhar esse conjunto”, diz Lincoln Paiva, idealizador do Projeto MelhorAr de Mobilidade Sustentável que lançou na sexta-feira passada a Campanha “Não Vou de Carro” na internet. Acessando o endereço www.naovoudecarro.com.br, o motorista pode conhecer quanto o seu veículo emite de dióxido de carbono (CO2) e se conscientizar sobre o quanto contribui para os problemas de poluição. Com essa ferramenta, o projeto quer estimular a discussão sobre a utilização de meios de transporte alternativos. O site promove o Dia Sem Carro, mas a intenção dos organizadores é deixá-lo no ar até o final do ano como forma de estimular as pessoas a deixarem o carro em casa.

“O Dia Sem Carro é um convite para deixar o carro na garagem, para transitar de ônibus, a pé ou de bicicleta, observando a diferença em função da redução do trânsito”, afirma Marcos Isfer, presidente da Urbanização de Curitiba S/A, empresa responsável pelo gerenciamento do trânsito e do transporte coletivo na Capital. “Com o Dia Sem Carro Curitiba une-se ao esforço mundial de conscientização de que todos podem ajudar a reduzir a poluição”, completa Isfer.
Experiência fora — Paiva, que morou na Europa até 2007, descobriu ser possível levar uma vida “normal” sem ter que ligar a chave do carro. “O foco nos países mais desenvolvidos é na pessoas. Já no Brasil, na América do Sul, é no carro”, aprendeu. A ferramenta na internet foi elaborada em 2008, e serve para mapear o deslocamento motor e a emissão de CO2, tanto para empresas como para pessoas físicas. “Tinha que ter um lugar onde registrar o benefício de você deixar o carro em casa”, explica Paiva.

“O que a gente quer incentivar é a forma alternativa de mobilidade. A pé, de bicicleta, de carona. Trabalhar as conexões intermodais sem ter que alterar a estrutura das cidades já existentes”, diz Paiva. “Tem que ter em mente que quando saímos de casa, seja a pé, de carro, de ônibus, de qualquer jeito, é uma opção que fazemos. Quando a gente faz uma opção, estamos sujeitos a uma determinada condição de circulação”, diz a coordenadora da Urbs, Maura Moro. Ou seja, está nas mãos de cada um de nós.

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