quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Até a Academia Brasileira de Letras entra no debate para denunciar a corrupção na vida política brasileira

INSTITUTO AME CIDADE, 28 de setembro de 2011


O uso da política para fins particulares, com o patrimonialismo descarado praticado por vários políticos, faz a discussão política sobre este triste cotidiano penetrar até no ambiente interno da Academia Brasileira de Letras, uma instituição mais dedicada ao debate intelectual centrado na cultura e na literatura.

Foi este o tom do discurso de recepção feito pelo acadêmico Eduardo Portella ao jornalista Merval Pereira, eleito no dia de junho deste ano e que tomou posse há menos de uma semana. Merval Pereira passa a ocupar a cadeira que foi do escritor Moacyr Scliar, falecido em 27 de fevereiro de 2011.

Vale a pena ler trechos do discurso de Portella, que tratam de questões preocupantes que afetam a vida dos brasileiros. Veja abaixo algumas partes. E para ler o discurso na íntegra, clique aqui.


"Os produtos oferecidos nas prateleiras eleitorais estão, em geral, falsificados. E porque falsificados, falsificam. É quando imaginamos oportuno recorrer à competência de algum especialista em teoria do caos. Porque a democracia brasileira vem operando no vermelho. Até quando? Não se sabe. Ela tem fôlego de gato."

"A corrupção na democracia e, o que é mais grave, a corrupção da própria democracia, estimula distúrbios e transtornos de consequências imprevisíveis."

"A morte da opinião, o controle do repertório temático, camuflado ou explícito, conduzirá inevitavelmente à parada cardíaca da democracia representativa. A própria ideia de representação vai sendo acometida pela falência múltipla dos seus órgãos. Apagam-se as diferenças, e promove-se a coalizão das colisões, em meio ao carnaval das impunidades."

"No lugar de uma sólida democracia representativa, o que se percebe é o baixíssimo nível da representatividade, a produção viciada dos diferentes poderes, apontando para a decisão dos patrocinadores, sejam eles laicos ou religiosos."

"Já é hora de pensar com e para além da política. A nossa dieta reflexiva tem sido extremamente ascética. É inadiável retirar a política do seu gueto eleitoreiro."

"Por todos os lados, ganha corpo e alma, a exigência de democratizar a democracia. Começando por isolar as zonas de sombra que se projetam sobre a luminosidade do que seria a democracia tropical."

"Vai se tornando natural o uso abusivo do aparelho administrativo público, das licitações fraudadas, do lobismo desfigurado, dos discutíveis, até hoje jamais discutidos, dízimos partidários. A transparência se assemelha àquelas moedas que foram retiradas de circulação."

"Com a despolitização da esfera pública e o depauperamento do espaço cultural, crescem o vazio e a indiferença, apontando para o que já chamei de baixa modernidade. O esvaziamento cultural do espaço público, na sua versão majoritária e menos sigilosa, mal resiste aos abalos sísmicos que o cercam, e repercute diretamente na queda qualitativa da democracia."

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