quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Defesa Civil existe apenas no nome

O GLOBO, 19 de janeiro de 2011


Há incontáveis exemplos, em países desenvolvidos, de como deve funcionar um efetivo sistema de defesa civil.

O caso mais recente é o da Austrália, atingida por uma enchente gigantesca, numa área equivalente à soma dos territórios de França e Alemanha. Mesmo assim, foram contabilizados menos de 30 mortos.

Acionada, a estrutura de emergência do país agiu na prevenção, a partir de um planeja-mento preexistente e bem feito.

Quando, no Brasil, a contagem dos mortos da Região Serrana do Rio já chegava a dez vezes as vítimas na Austrália, reportagem do “Jornal Nacional” trouxe o depoimento de um brasileiro morador naquele país, numa cidade caminho da enchente. Ele recebeu pelo correio o aviso sobre a cheia, com as devidas instruções do que fazer.

Há, também, falhas. Mas não pela inexistência de uma estrutura de defesa civil. O fiasco da Fema americana (Federal Emergency Management Agency), no furacão Katrina, em 2005, em Nova Orleans, se deveu, soube-se depois, ao fato de a agência ter sido aparelhada por amigos e aliados do presidente Bush, um tipo de distorção que costuma acontecer em Brasília.

Na grande nevasca que há pouco paralisou Nova York, o prefeito Michael Bloomberg foi criticado, com razão, por não ter decretado a tempo o estado de emergência. Teria ajudado a esvaziar as ruas para permitir o trânsito dos veículos de serviços básicos.

Teria ocorrido, também, uma “operação tartaruga” de servidores desgostosos com os cortes executados pela prefeitura, em fase de ajuste fiscal.

Mas, numa nevasca seguinte, mesmo sem a intensidade da anterior, Bloomberg apressou-se a colocar Nova York em emergência. Não houve erros.

No Brasil, como demonstra a tragédia da serra, quase tudo está por fazer.

Se há a informação sobre alguma tempestade — o novo radar meteorológico do Rio detectou a que se abateria sobre a Região Serrana —, ela não é distribuída. E se for divulgada — organismos federais despacharam e-mails —, nada acontece, porque no destinatário final, as prefeituras, não existe quem possa processá-la e tomar decisões. Planejamento, nem pensar.

Não há no Brasil, a rigor, Defesa Civil. Existem bons exemplos isola-dos, como o do Rio, que desde as enchentes da década de 60 começou a construir uma defesa civil de fato. Agora, ela está em fase de modernização com, entre outras iniciativas, a bem-vinda construção, na Cidade Nova, do Centro de Operações, de nível de Primeiro Mundo. Nele, todos os serviços básicos podem ser acionados em tempo real, com monitoramento on-line da cidade.

Mas não existe uma rede nacional em que se obtenha, processe e faça circular entre estados e municípios informações básicas para as autoridades, em qualquer nível administrativo, agirem a fim de evitar mortos e feridos.

O ministro Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, diante da constatação de que milhões vivem em áreas de risco, anuncia a montagem, afinal, de um sistema nacional de prevenção contra acidentes climáticos.

O Planalto poderia, ainda, envolver o recém criado Núcleo de Gestão e Competitividade no projeto, pois, se não houver agilidade e articulação neste sistema, nada feito.

O número e a dedicação dos voluntários que atuam na atual tragédia são prova da imensa energia que existe na população para agir em situações de perigo. Falta a crucial coordenação do poder público. Até hoje, inexistente.

Nenhum comentário: