sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Perda de biodiversidade custa até US$ 4,5 trilhões

GAZETA DO POVO, 10 de setembro de 2010

ONU lança em Curitiba estudo que relata casos mundiais de benefícios econômicos trazidos pela conservação ambiental


Nas Ilhas Maldivas, depois de anos de caça predatória do tubarão, o governo local percebeu que era mais rentável preservar os animais para estimular o turismo do que abatê-los. Esse e outros 120 exemplos de benefícios econômicos trazidos pela manutenação da biodiversidade foram divulgados ontem durante simpósio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnud), em Curitiba. Os estudos de caso integram a pesquisa A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (Teeb, na sigla em inglês) encomendada pelos países do G8+5 para servir de referência à formulação de políticas locais e regionais.

Segundo o economista Pavan Sukhdev, um dos autores do Teeb, a devastação ambiental representa perda de US$ 2 trilhões a US$ 4,5 trilhões em capital natural por ano à economia mundial. Os valores não foram divididos por regiões, mas o diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, salientou que a parte referente ao Brasil “certamente é importante”. “Temos as mais extensas florestas e convivemos com altas taxas de desmatamento”, diz.

O relatório explora e dá dicas práticas de como lidar com o desafio de perda de biodiversidade em nível local e regional, examina ações que os governos podem tomar quanto ao uso e gestão de recursos naturais, manutenção de biodiversidade e arquitetura urbana como também ferramentas de mercado como Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). “Se a ação não é tomada localmente não há ação”, comenta Sukhdev.

Responsável por 20% de toda a biodiversidade da Terra, o Brasil tem condições de se tornar a grande potência mundial dentro do novo paradigma de economia sustentável. Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, apesar de o país ser o maior exportador de carne, a lucratividade com Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) é quase três vezes maior do que com a pecuária. “Mas não podemos só pensar na valoração do produto”, diz.

Segundo Nobre, a produção do açaí na região amazônica, por exemplo, permite renda de US$ 206 a US$ 2.272 por hectare ao ano, contra US$ 100 a US$ 400 por hectare a cada 25 a 30 anos na exploração da madeira ou de US$ 100 a US$ 200 por hectare ao ano na lavoura de soja. Sem contar a pecuária, que renderia apenas US$ 20 a US$ 70 por hectare/ano. No entanto, o pesquisador ressaltou que o produto sai do campo por US$ 200 e chega a um supermercado na Califórnia por US$ 70 mil. O valor é agregado por outras empresas do Sudeste e Sul do Brasil ou de outros países e não resolve o problema do produtor. “Se não significa redução de pobreza não ajuda o desenvolvimento sustentável do meio ambiente”, pondera.

Comunidades - De acordo com Sukhdev, as comunidades pobres e rurais, que vivem em torno de florestas e dela retiram parte do sustento, são as que mais sofrem com a perda da biodiversidade. No Brasil, ele diz acreditar que 20 milhões de pessoas estão nessa condição. “A biodiversidade é uma necessidade para os pobres e não apenas uma ligação afetiva para os ricos”, afirma. “A biodiversidade no Brasil ainda é tratada como potencial, a gente tem que saber valorizar mais”, complementa Bráulio Dias.

O tema continuará a ser debatido hoje no evento, que está sendo promovido pelo Pnud simultaneamente em Nova Delhi (Índia), Cidade do Cabo (África do Sul) e Ghent (Bélgica). O relatório final do programa será apresentado na Convenção Sobre Diversidade Biológica (COP 10), em Nagoya, no Japão, em outubro deste ano.


Para mais informações sobre os casos acesse: www.teebweb.org

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