quinta-feira, 28 de outubro de 2010

‘Eleições trouxeram modelo ruim de fazer política’

FOLHA DE LONDRINA, 18 de outubro de 2010

Avaliação é do presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, para quem o processo eleitoral priorizou marketing em detrimento de propostas


Para o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, o eleitor ‘ficou refém’ de um modelo de campanha que pouco contribui à democracia
Eleições que mais pareceram a escolha de presidente de grêmio estudantil que de presidente da República, com forte apelo marqueteiro e sem ideias e propostas concretas, por exemplo, pelo fim dos alarmantes índices de desigualdade no País. A análise pouco otimista foi feita ontem pelo presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, que esteve em Londrina para o lançamento de um programa de aperfeiçoamento do ensino jurídico brasileiro (leia na página 8).

A declaração do presidente da Ordem foi a resposta sobre o quão edificante foi para o cidadão uma campanha de segundo turno presidencial focada, preponderantemente, em ataques entre os adversários Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) - sobretudo nos debates de TV - e comparações e ações de gestões passadas.

Para o presidente da OAB, o eleitor ''ficou refém'' de um modelo que, avalia, pouco contribui à democracia efetiva - mas muito, pondera, a uma democracia de consumo. ''É uma democracia fabricada a partir do marketing para vender imagens de candidatos, a fim de obter votos. Em suma, essas eleições nos trouxeram um exemplo ruim de como fazer política nesse país, pois é necessário trabalhar cada vez mais na discussão de ideias, de programas, e muito menos as pessoas em si'', disse, para concluir: ''Mas a ênfase nessas eleições lamentavelmente foi no sentido que não se esperava. Pareceram mais eleições para um grêmo estudantil que, necessariamente, para presidente da República - por isso precisamos, a partir desse exemplo, construir um novo caminhar''.

Cavalcante disse acreditar que, a despeito de uma aparente disputa acirrada entre os dois candidatos, o sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não terá grandes dificuldades em reunificar a sociedade e reconstruir eventuais pontes desfeitas ou abaladas no curso do processo eleitoral. ''As eleições levam a um tensionamento; temos uma preocupação muito grande com o 'day after' delas: aquele que vencer vai ter que ser magnânimo, pois será presidente de todos, inclusive dos que não votaram nele, não podendo jamais fazer um governo de ódio. Evidentemente terá de trabalhar também tendo uma oposição - todo governo tem que ter - que seja responsável, mas creio que essa situação de dualidade é muito mais fruto de estratégia eleitoral do que de, propriamente, uma divisão dentro do Brasil, como se tem nos grandes clubes de futebol.''

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