sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Fogo queima mais de mil alqueires

FOLHA DE LONDRINA, 24 de setembro de 2010

Incêndio no Norte paranaense deixa rastro de destruição em propriedades rurais. O Paraná já teve mais de 9 mil incêndios este ano que causam prejuízos e risco de vida no campo


Ao chegar no município de Florestópolis (73 km de Londrina), o céu azul dá lugar a uma nuvem de poeira e fumaça proveniente do grande incêndio que se alastrou pela Região Norte na tarde de anteontem. O resultado foi muita cinza, árvores queimadas, animais mortos e centenas de alqueires atingidos pelo fogo.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, o Paraná contabiliza mais de 9 mil incêndios desde o início de 2010. Durante todo o ano passado, foram registrados 7 mil. Em 2007, quando foi registrado número recorde de queimadas, os bombeiros verificaram a ocorrência de 13 mil incêndios em 12 meses.

Somente na última quarta-feira estima-se que foram atingidos o correspondente a mais de mil alqueires, incluindo cerca de 70 alqueires de mata nativa. O fogo foi parcialmente controlado, principalmente por integrantes da Usina Alto Alegre e moradores da região. Mas até a tarde de ontem ainda havia focos de incêndio nas matas nativas próximas às propriedades.

Um dos locais mais prejudicados pelo fogo foi a fazenda Três Corações, cujo proprietário Luis Henrique Ribeiro não consegue nem contabilizar os prejuízos. ''O fogo se alastrou por toda minha fazenda e alcançou uma altura de uns sete metros. Foram 180 alqueires queimados, mais 70 de mata nativa, com árvores de 500 anos'', lamentou ele, mostrando tudo o que foi atingido, incluindo área de plantio de cana, pasto, vários animais, sendo um deles um cavalo que morreu, e um pequeno escritório, onde guardava todos os documentos, fotos e registros da propriedade.

Apesar do maior prejuízo ter sido financeiro, o proprietário lembra dos momentos de desespero que passou com a família. ''Este foco de incêndio começou na semana passada numa fazenda vizinha e veio percorrendo até aqui. Quando chegou na mata nativa, ninguém conseguiu controlar e resultou nesse desastre. Como estava com muita palha da cana, foi como pólvora. Só deu tempo de pegar a família e sair quebrando cerca com os funcionários.''

O mesmo susto também passou a família de Arnaldo Rissi, proprietário de um pequeno sítio de 15 alqueires. Por poucos metros o fogo não atingiu a casa e os barracões em que cria frangos, onde recentemente fez o investimento de R$ 200 mil. ''Foi por pouco mesmo. A minha sorte é que os frangos foram levados para o abate na semana passada. Caso contrário, poderiam ter morrido queimados. Mas se estivessem, como ficou tudo sem luz, não teriam iluminação ou ventilação, já que é automatizado'', contou.

Ainda que a área seja pequena, ele foi obrigado também a colher dez alqueires de cana de açucarantes do tempo, pois tudo foi queimado. ''Isso diminuiu em 500 toneladas da produção em relação ao ano passado", disse.


Lavouras e animais foram perdidos
A extensão da área destruída pelo fogo no Norte paranaense ainda não foi confirmada, mas estima-se que pelo menos dez propriedades rurais tenham sido atingidas em Mirasselva, Prado Ferreira e Florestópolis. Ao todo, mais de mil alqueires, incluindo 70 alqueires de mata nativa. Cooperativas confirmaram perdas de lavouras de trigo, cana-de-açúcar, além da morte de gado.

De acordo com Antonio Barreto, responsável pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) no Norte do Estado, um funcionário foi encaminhado na tarde de ontem para fazer o levantamento do prejuízo. Mas a assessoria de imprensa da Seab em Curitiba não confirmou a informação.

Segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), duas equipes foram encaminhadas para fazer o levantamento da destruição em áreas de reserva e unidades de conservação. Mas, segundo José Henrique Ribeiro, responsável por uma propriedade que tinha grande área de mata nativa, nenhum representante do IAP o procurou para falar sobre o assunto. ''Só na minha propriedade foram destruidos mais de 50 alqueires de mata virgem, que nunca tinha sido tocada, com árvores imensas e animais silvestres.''

Conforme Luiz Eduardo Andrade Vilela, engenheiro agrônomo da Cooperativa Agropecuária dos Cafeicultores de Porecatu (Coofercatu), a comunidade se uniu para apagar o fogo, já que os bombeiros eram poucos. Ele criticou a ausência das autoridades estaduais no local. Apenas 28% das cidades paranaenses contam com equipes do Corpo de Bombeiros. Dessas, 55% são bombeiros comunitários.

Segundo o Simepar, há previsão de chuvas para o fim de semana nas cidades atingidas. ''Deve chover cerca de 30 milímetros na região do incêndio'', afirma o meteorologista Lizandro Jacobsen. Mas a tendência ainda é de seca no Estado. ''Em função do 'La Niña' teremos uma primavera mais seca que o normal.''


Região de Maringá é campeã em ocorrências
Nos últimos meses, as guarnições do Corpo de Bombeiros têm se movimentado em todo o Paraná para atender chamadas de incêndios ambientais. Isso tem ocorrido principalmente nas regiões de Maringá (Noroeste) e seus 114 municípios, Cascavel (Oeste), com 84 cidades, e Londrina (Norte), com 72 localidades.

Principal cidade da região líder em queimadas, Maringá, município com mais de 335 mil habitantes e mais de 3,2 mil registros este ano, os bombeiros elaboraram um método de triagem, para dar prioridade as ocorrências mais importantes. ''Nós verificamos com o solicitante qual o risco do incêndio. As vezes um terreno baldio que não apresente riscos deixamos para depois para atender os considerados mais perigosos'', disse o 2º tenente João Paulo Miosso, do Corpo de Bombeiros de Maringá.

Casos de incêndios em áreas agrícolas afetam também o Norte do Paraná. Números cedidos pelo 1º tenente Clodomir Marafigo Junior revelam que desde o início de 2010 foram registrados pelos bombeiros do 3º Grupamento chegam a 1.909, dos quais 517 foram feitos em locais ligados à agricultura.

Marafigo alega que na maioria dos casos, mesmo em áreas ubanas as motivações são as mesmas. ''A pessoa ateia fogo área queimar a mata e acaba perdendo o controle, porque ele se espalha rápido por causa da umidade e do vento'', comenta.

A região de Cascavel, terceira do estado com mais ocorrências de incêndios ao meio ambiente, registrava até ontem 1.218 queimadas. De acordo com o oficial de Comunicação Social, tenente Rafael Tavares, o quadro deve mudar nos próximos dias por conta das chuvas. ''Estamos com um índice de incêndios ambientais que há três anos não se via, mas agora temos chuvas programadas até segunda-feira o que já ajuda bastante'', disse.

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