JORNAL DE LONDRINA, 23 de agosto de 2010
Número de estabelecimentos que vendem remédios aumenta em Londrina: redes dominam o mercado. A cidade tem uma farmácia para cada grupo de 1.700 moradores, quando a ONU estabelece como ideal uma farmácia por cada 5 mil habitantes.
Até 10 anos atrás, quem precisava comprar um medicamento em Londrina era obrigado andar algumas quadras para achar uma farmácia. Hoje, elas estão em todos os cantos do centro da cidade, até em frente uma das outras. Com a entrada no mercado londrinense das grandes redes nacionais, a cidade registrou um boom no setor. E parece que o mercado ainda é atrativo. No último sábado, uma rede nacional abriu três novas lojas no Município e outra rede deve chegar até o final do ano.
De acordo com uma contagem rápida feita pela reportagem em uma lista telefônica, o Município tem atualmente cerca de 300 estabelecimentos voltados para a venda de medicamentos – sejam tradicionais, de manipulação ou homeopáticas. Com uma população estimada em 510.000 pessoas, significa que Londrina tem uma farmácia para cada grupo de 1.700 moradores. A ONU preconiza, como ideal, uma farmácia por cada 5 mil habitantes.
Algumas podem até estar funcionando de forma ilegal. Segundo a coordenadora da subseção Londrina do Conselho Regional de Farmácia (CRF), Sandra Iara Sterza, existem na cidade apenas 227 farmácias registradas no conselho. Ela ficou surpresa com o número levantado pelo JL. “Algumas, sabemos, estão registradas apenas no nome da rede ou até em processo de registro e por isto não consta da nossa relação. Mas algumas estão mesmo irregulares”, afirmou.
Porém, segundo ela, sejam 300 ou 227, o número ainda é excessivo. “Principalmente porque elas não estão espalhadas de forma equitativa por todo Município. A maioria se concentra no centro da cidade e em locais de grande circulação. Os bairros mais distantes não têm acesso fácil”, disse. “Estamos lutando por uma lei federal que determine uma distância padrão entre uma farmácia e outra. Londrina tinha uma, mas foi derrubada”.
Poder aquisitivo - O economista Antônio Eduardo Nogueira, do Departamento de Economia da UEL, explicou que a explosão do número de farmácias na cidade pode ser explicada pela melhoria do poder aquisitivo da população. “Três produtos são reflexos de uma renda aquisitiva maior: alimentos, vestuário e medicamentos. Com melhor poder de compra, a pessoa pensa em se alimentar melhor, se vestir melhor e cuidar da própria saúde”, explicou.
Segundo ele, os comerciantes estão atentos a isso e exploram esses nichos. “O problema é que a população e a renda não aumentam tão rápido e a concentração do setor acaba nas mãos das grandes redes, que acabam por comprar as pequenas”, explicou.
Grandes e pequenos na mesma aposta - Para o empresário Rubens Benedito Augusto, proprietário de uma rede de farmácias em Londrina – que está com 22 lojas e deve inaugurar mais 17 lojas na região e no sul de São Paulo até 2011 -, o grande número de lojas na cidade e de redes nacionais chegando é benéfico para a população. “Para o consumidor é ótimo, a grande vantagem é o preço baixo”, disse. Já para os empresários do ramo, a coisa não é tão boa assim. “Eu tinha mais dinheiro quando tinha uma ou duas lojas”, brincou. “Ninguém gosta de concorrência, mas ela é necessária. Ela nos força aprimorar os serviços cada vez mais”, afirmou.
Para Augusto, as pequenas farmácias de bairro não vão desaparecer, assim como não desapareceram os pequenos supermercados. “Quando o Carrefour se instalou em Londrina, acharam que os pequenos iriam à falência. Mas não. O consumidor pode até fazer compra de mês no grande mercado, mas a do dia-a-dia continua a ser feita no bairro”, disse. Segundo ele, no entanto, é preciso disposição para trabalhar. “As pequenas têm que conquistar o cliente pelo atendimento”, garantiu.
Atenção - É isso o que fazem Orlando Carlos Carvalho e Marcio Oshima, farmacêuticos técnicos e proprietários da Farmácia e Drogaria Casoni, há 40 anos localizada na Rua Caraíbas, centro de Londrina. Para eles, a farmácia do bairro vai continuar resistindo porque o atendimento é diferente. “Aqui, a gente conquista porque tem tempo de dar atenção, explicar, orientar. Nas grandes redes, a maior parte dos atendimentos é feita por balconistas que pensam apenas na comissão”, afirmou Carvalho.
Ao contrário das grandes farmácias que vendem de tudo, de cartão telefônico à comida, amparados por liminar depois que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu, os dois só vendem medicamentos, perfumaria e cosméticos. “A perfumaria é necessária para ter uma renda a mais. Nós não temos poder de fogo para conseguir uma liminar destas, então a gente tem que obedecer a Anvisa”, disse Carvalho.
Unidade primária de saúde
Para a coordenadora do CRF de Londrina, Sandra Sterza, o maior problema na proliferação de farmácias é que elas deixaram de ser uma unidade primária de saúde para virar um centro de compras. “Para a ONU, a farmácia é uma unidade de saúde. Imagine se todo mundo que tem uma cefaleia procurar um posto de saúde? O sistema público entraria em colapso total. O farmacêutico pode agir nestes casos, recomendando medicamentos de uso livre”, disse. Segundo ela, os farmacêuticos são responsáveis por controlar e orientar o uso de medicamento e fazer o acompanhamento farmacoterapêutico. “A farmácia não pode ser voltada exclusivamente à venda do medicamento”, justificou.
No entanto, no Brasil, segundo ela, poucas são as farmácias que ainda cumprem seu papel. “As dos bairros estão mais de acordo com o que preconiza a ONU que as grandes redes. Porém, o problema é que estão lutando para sobreviver”, disse. Nem a obrigatoriedade de ter um farmacêutico de plantão durante todo o horário de atendimento das lojas garante este acompanhamento, principalmente quando há disque-entrega envolvido.
“Esta é uma maneira que inventaram de ter mais lucro. Mas como o farmacêutico vai poder avaliar por telefone se o medicamento é realmente adequado para aquele caso, verificar as interações medicamentosas, ver a quantidade e o tempo de ingestão, e até questionar o médico? Tudo isso é função do farmacêutico, que é o profissional que entende de medicamento”, afirmou.
Número de estabelecimentos que vendem remédios aumenta em Londrina: redes dominam o mercado. A cidade tem uma farmácia para cada grupo de 1.700 moradores, quando a ONU estabelece como ideal uma farmácia por cada 5 mil habitantes.
Até 10 anos atrás, quem precisava comprar um medicamento em Londrina era obrigado andar algumas quadras para achar uma farmácia. Hoje, elas estão em todos os cantos do centro da cidade, até em frente uma das outras. Com a entrada no mercado londrinense das grandes redes nacionais, a cidade registrou um boom no setor. E parece que o mercado ainda é atrativo. No último sábado, uma rede nacional abriu três novas lojas no Município e outra rede deve chegar até o final do ano.
De acordo com uma contagem rápida feita pela reportagem em uma lista telefônica, o Município tem atualmente cerca de 300 estabelecimentos voltados para a venda de medicamentos – sejam tradicionais, de manipulação ou homeopáticas. Com uma população estimada em 510.000 pessoas, significa que Londrina tem uma farmácia para cada grupo de 1.700 moradores. A ONU preconiza, como ideal, uma farmácia por cada 5 mil habitantes.
Algumas podem até estar funcionando de forma ilegal. Segundo a coordenadora da subseção Londrina do Conselho Regional de Farmácia (CRF), Sandra Iara Sterza, existem na cidade apenas 227 farmácias registradas no conselho. Ela ficou surpresa com o número levantado pelo JL. “Algumas, sabemos, estão registradas apenas no nome da rede ou até em processo de registro e por isto não consta da nossa relação. Mas algumas estão mesmo irregulares”, afirmou.
Porém, segundo ela, sejam 300 ou 227, o número ainda é excessivo. “Principalmente porque elas não estão espalhadas de forma equitativa por todo Município. A maioria se concentra no centro da cidade e em locais de grande circulação. Os bairros mais distantes não têm acesso fácil”, disse. “Estamos lutando por uma lei federal que determine uma distância padrão entre uma farmácia e outra. Londrina tinha uma, mas foi derrubada”.
Poder aquisitivo - O economista Antônio Eduardo Nogueira, do Departamento de Economia da UEL, explicou que a explosão do número de farmácias na cidade pode ser explicada pela melhoria do poder aquisitivo da população. “Três produtos são reflexos de uma renda aquisitiva maior: alimentos, vestuário e medicamentos. Com melhor poder de compra, a pessoa pensa em se alimentar melhor, se vestir melhor e cuidar da própria saúde”, explicou.
Segundo ele, os comerciantes estão atentos a isso e exploram esses nichos. “O problema é que a população e a renda não aumentam tão rápido e a concentração do setor acaba nas mãos das grandes redes, que acabam por comprar as pequenas”, explicou.
Grandes e pequenos na mesma aposta - Para o empresário Rubens Benedito Augusto, proprietário de uma rede de farmácias em Londrina – que está com 22 lojas e deve inaugurar mais 17 lojas na região e no sul de São Paulo até 2011 -, o grande número de lojas na cidade e de redes nacionais chegando é benéfico para a população. “Para o consumidor é ótimo, a grande vantagem é o preço baixo”, disse. Já para os empresários do ramo, a coisa não é tão boa assim. “Eu tinha mais dinheiro quando tinha uma ou duas lojas”, brincou. “Ninguém gosta de concorrência, mas ela é necessária. Ela nos força aprimorar os serviços cada vez mais”, afirmou.
Para Augusto, as pequenas farmácias de bairro não vão desaparecer, assim como não desapareceram os pequenos supermercados. “Quando o Carrefour se instalou em Londrina, acharam que os pequenos iriam à falência. Mas não. O consumidor pode até fazer compra de mês no grande mercado, mas a do dia-a-dia continua a ser feita no bairro”, disse. Segundo ele, no entanto, é preciso disposição para trabalhar. “As pequenas têm que conquistar o cliente pelo atendimento”, garantiu.
Atenção - É isso o que fazem Orlando Carlos Carvalho e Marcio Oshima, farmacêuticos técnicos e proprietários da Farmácia e Drogaria Casoni, há 40 anos localizada na Rua Caraíbas, centro de Londrina. Para eles, a farmácia do bairro vai continuar resistindo porque o atendimento é diferente. “Aqui, a gente conquista porque tem tempo de dar atenção, explicar, orientar. Nas grandes redes, a maior parte dos atendimentos é feita por balconistas que pensam apenas na comissão”, afirmou Carvalho.
Ao contrário das grandes farmácias que vendem de tudo, de cartão telefônico à comida, amparados por liminar depois que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu, os dois só vendem medicamentos, perfumaria e cosméticos. “A perfumaria é necessária para ter uma renda a mais. Nós não temos poder de fogo para conseguir uma liminar destas, então a gente tem que obedecer a Anvisa”, disse Carvalho.
Unidade primária de saúde
Para a coordenadora do CRF de Londrina, Sandra Sterza, o maior problema na proliferação de farmácias é que elas deixaram de ser uma unidade primária de saúde para virar um centro de compras. “Para a ONU, a farmácia é uma unidade de saúde. Imagine se todo mundo que tem uma cefaleia procurar um posto de saúde? O sistema público entraria em colapso total. O farmacêutico pode agir nestes casos, recomendando medicamentos de uso livre”, disse. Segundo ela, os farmacêuticos são responsáveis por controlar e orientar o uso de medicamento e fazer o acompanhamento farmacoterapêutico. “A farmácia não pode ser voltada exclusivamente à venda do medicamento”, justificou.
No entanto, no Brasil, segundo ela, poucas são as farmácias que ainda cumprem seu papel. “As dos bairros estão mais de acordo com o que preconiza a ONU que as grandes redes. Porém, o problema é que estão lutando para sobreviver”, disse. Nem a obrigatoriedade de ter um farmacêutico de plantão durante todo o horário de atendimento das lojas garante este acompanhamento, principalmente quando há disque-entrega envolvido.
“Esta é uma maneira que inventaram de ter mais lucro. Mas como o farmacêutico vai poder avaliar por telefone se o medicamento é realmente adequado para aquele caso, verificar as interações medicamentosas, ver a quantidade e o tempo de ingestão, e até questionar o médico? Tudo isso é função do farmacêutico, que é o profissional que entende de medicamento”, afirmou.
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