VALOR ECONÔMICO, 16 de agosto de 2010
A exemplo do que ocorre com o tempo e o clima, quatro metrópoles sul-americanas - São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Santiago - terão em breve serviços de previsão dos níveis de poluição e da qualidade do ar. Isso será possível graças ao uso de dois poderosos aglomerados de computadores, um instalado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP), e outro na Universidade do Chile. Eles integram o projeto Emissões, Megacidades e Clima na América do Sul (SAEMC na sigla em inglês de South American Emissions, Megacities and Climate).
O programa existe desde 2006, mas a novidade é que ele teve sua capacidade computacional aumentada e integrada por meio das redes acadêmicas Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), do Brasil, Red Universitaria Nacional (Reuna), do Chile, e a Cooperação Latino-Americana de Redes Avançadas (Clara) - esta responsável pela interconexão das redes acadêmicas avançadas nacionais da América Latina e destas com as da Europa.
A integração é possível graças uma tecnologia conhecida como "grid computing" ou computação em grade. Ela é usada em projetos que envolvam a execução de modelos numéricos processados em supercomputadores e aglomerados em locais distantes uns dos outros - até mesmo em países diferentes. Além disso, pesquisadores situados em instituições sem recursos de computação de alto desempenho podem se beneficiar dessa tecnologia. O SAEMC está disponível para cientistas de 13 de instituições de países como Bolívia, Colômbia e Peru, além de Brasil, Argentina e Chile.
Para facilitar a utilização dos aglomerados de computadores do SAEMC, foi criado um portal, que tem algumas diferenças em relação aos que estão na internet. "Esses portais da web estão prontos, todas as informações estão disponíveis", diz o engenheiro e pesquisador Eugênio Almeida, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Inpe, um dos responsáveis pelo projeto. "No caso do portal do SAEMC, nada está pronto. Os pesquisadores interessados em desenvolver e testar modelos numéricos, devem fornecer seus dados e o portal devolve os resultados."
O portal traz facilidades para o usuário na configuração e execução do modelo, além de gerar gráficos e elementos visuais dos resultados obtidos. "A centralização do acesso ao sistema permite otimizar o uso dos recursos computacionais através da definição de uma política de uso das mesmas."
O modelo de previsão da qualidade do ar funciona acoplado a outro, no caso de previsão do tempo. Os dois rodam ao mesmo tempo no computador, por isso é preciso grande poder computacional. Para efeito de comparação, se os dois modelos fossem processados num computador doméstico, seriam necessárias dez horas para realizar o trabalho. Uma eternidade em se tratando de previsões do tempo e qualidade do ar.
Hoje, o Inpe realiza previsões diárias dos níveis de poluição para a cidade de São Paulo para até três dias. Os dados sobre os poluentes dispersos no ar são colhidos por medidores da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e repassados ao instituto. Entre os gases, cujas quantidades na atmosfera são medidas, estão o monóxido e dióxido de carbono, o óxido nitroso e o ozônio - que quando próximo ao solo é poluente -, além de partículas de aerossóis de queimadas e de emissões urbanas e industriais. Com esses dados e a previsão do tempo, que inclui informações sobre a velocidade, umidade do ar e a ocorrência de chuva ou não, o Inpe é capaz de prever a qualidade do ar para os próximos três dias.
Os novos recursos computacionais do SAEMC tornarão possível pesquisas para avaliar os impactos das emissões de poluentes nas grandes cidades, de acordo com os diferentes cenários de mudanças climáticas apontados para a América do Sul. O projeto tem ainda como objetivo fortalecer e ampliar a pesquisa e a capacidade de construção de redes de modelagem de sistemas da terra para as Américas.
Problemas requerem políticas públicas abrangentes
"Precisamos sair da retórica, fazendo a sustentabilidade urbana permear as políticas públicas em todas as esferas de governo", adverte Maurício Broinzi Pereira, supervisor da Plataforma Cidades Sustentáveis, lançada recentemente em São Paulo com 73 exemplos de boas práticas em várias partes do mundo.
A iniciativa, idealizada pelo Movimento Nossa São Paulo e pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, inclui uma carta-compromisso, aberta para assinatura de candidatos a governos estaduais e ao Senado nas próximas eleições. Até o momento, onze políticos aderiram ao documento - que deve tornar-se fonte de informação estratégica para políticas públicas destinadas a garantir a qualidade de vida nas cidades.
Nas dez páginas da carta, os candidatos se comprometem "a adotar metas concretas de sustentabilidade e ações integradas nos níveis locais, regionais e nacional", como informa o texto.
De acordo com Pereira, "as políticas metropolitanas e estaduais abrangem desafios que vão desde a organização de comitês de bacias hidrográficas para gerenciar o uso dos rios até a compra responsável de madeira da Amazônia". A governança, segundo ele, é um dos principais gargalos para tornar as cidades mais habitáveis e sustentáveis.
"É necessário mexer na correlação de forças que atuam nas políticas públicas para que essas ideias sejam majoritárias", recomenda o cientista político Sérgio Abranches, que participou do lançamento da Plataforma Cidades Sustentáveis, em São Paulo. "Falta conexão entre a base da sociedade e quem decide", acrescenta o analista, lembrando que o futuro do planeta depende de ação imediata: "Não temos um plano B."
"O país precisará considerar como prioridade as cidades para fazer a lei nacional sobre mudanças climáticas (ainda não regulamentada) sair do papel", completa Abranches.
"O problema ambiental e social urbano é essencialmente político, pois há soluções já conhecidas e viáveis para torná-las mais sustentáveis", afirma o urbanista Jorge Wilheim, criador dos corredores de ônibus em São Paulo e responsável por projetos urbanos em diversas partes do país e do mundo. "A sustentabilidade, que certamente vai marcar o discurso político nas campanhas eleitorais, não pode ser uma palavra vazia", afirma o urbanista.
A exemplo do que ocorre com o tempo e o clima, quatro metrópoles sul-americanas - São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Santiago - terão em breve serviços de previsão dos níveis de poluição e da qualidade do ar. Isso será possível graças ao uso de dois poderosos aglomerados de computadores, um instalado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP), e outro na Universidade do Chile. Eles integram o projeto Emissões, Megacidades e Clima na América do Sul (SAEMC na sigla em inglês de South American Emissions, Megacities and Climate).
O programa existe desde 2006, mas a novidade é que ele teve sua capacidade computacional aumentada e integrada por meio das redes acadêmicas Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), do Brasil, Red Universitaria Nacional (Reuna), do Chile, e a Cooperação Latino-Americana de Redes Avançadas (Clara) - esta responsável pela interconexão das redes acadêmicas avançadas nacionais da América Latina e destas com as da Europa.
A integração é possível graças uma tecnologia conhecida como "grid computing" ou computação em grade. Ela é usada em projetos que envolvam a execução de modelos numéricos processados em supercomputadores e aglomerados em locais distantes uns dos outros - até mesmo em países diferentes. Além disso, pesquisadores situados em instituições sem recursos de computação de alto desempenho podem se beneficiar dessa tecnologia. O SAEMC está disponível para cientistas de 13 de instituições de países como Bolívia, Colômbia e Peru, além de Brasil, Argentina e Chile.
Para facilitar a utilização dos aglomerados de computadores do SAEMC, foi criado um portal, que tem algumas diferenças em relação aos que estão na internet. "Esses portais da web estão prontos, todas as informações estão disponíveis", diz o engenheiro e pesquisador Eugênio Almeida, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Inpe, um dos responsáveis pelo projeto. "No caso do portal do SAEMC, nada está pronto. Os pesquisadores interessados em desenvolver e testar modelos numéricos, devem fornecer seus dados e o portal devolve os resultados."
O portal traz facilidades para o usuário na configuração e execução do modelo, além de gerar gráficos e elementos visuais dos resultados obtidos. "A centralização do acesso ao sistema permite otimizar o uso dos recursos computacionais através da definição de uma política de uso das mesmas."
O modelo de previsão da qualidade do ar funciona acoplado a outro, no caso de previsão do tempo. Os dois rodam ao mesmo tempo no computador, por isso é preciso grande poder computacional. Para efeito de comparação, se os dois modelos fossem processados num computador doméstico, seriam necessárias dez horas para realizar o trabalho. Uma eternidade em se tratando de previsões do tempo e qualidade do ar.
Hoje, o Inpe realiza previsões diárias dos níveis de poluição para a cidade de São Paulo para até três dias. Os dados sobre os poluentes dispersos no ar são colhidos por medidores da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e repassados ao instituto. Entre os gases, cujas quantidades na atmosfera são medidas, estão o monóxido e dióxido de carbono, o óxido nitroso e o ozônio - que quando próximo ao solo é poluente -, além de partículas de aerossóis de queimadas e de emissões urbanas e industriais. Com esses dados e a previsão do tempo, que inclui informações sobre a velocidade, umidade do ar e a ocorrência de chuva ou não, o Inpe é capaz de prever a qualidade do ar para os próximos três dias.
Os novos recursos computacionais do SAEMC tornarão possível pesquisas para avaliar os impactos das emissões de poluentes nas grandes cidades, de acordo com os diferentes cenários de mudanças climáticas apontados para a América do Sul. O projeto tem ainda como objetivo fortalecer e ampliar a pesquisa e a capacidade de construção de redes de modelagem de sistemas da terra para as Américas.
Problemas requerem políticas públicas abrangentes
"Precisamos sair da retórica, fazendo a sustentabilidade urbana permear as políticas públicas em todas as esferas de governo", adverte Maurício Broinzi Pereira, supervisor da Plataforma Cidades Sustentáveis, lançada recentemente em São Paulo com 73 exemplos de boas práticas em várias partes do mundo.
A iniciativa, idealizada pelo Movimento Nossa São Paulo e pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, inclui uma carta-compromisso, aberta para assinatura de candidatos a governos estaduais e ao Senado nas próximas eleições. Até o momento, onze políticos aderiram ao documento - que deve tornar-se fonte de informação estratégica para políticas públicas destinadas a garantir a qualidade de vida nas cidades.
Nas dez páginas da carta, os candidatos se comprometem "a adotar metas concretas de sustentabilidade e ações integradas nos níveis locais, regionais e nacional", como informa o texto.
De acordo com Pereira, "as políticas metropolitanas e estaduais abrangem desafios que vão desde a organização de comitês de bacias hidrográficas para gerenciar o uso dos rios até a compra responsável de madeira da Amazônia". A governança, segundo ele, é um dos principais gargalos para tornar as cidades mais habitáveis e sustentáveis.
"É necessário mexer na correlação de forças que atuam nas políticas públicas para que essas ideias sejam majoritárias", recomenda o cientista político Sérgio Abranches, que participou do lançamento da Plataforma Cidades Sustentáveis, em São Paulo. "Falta conexão entre a base da sociedade e quem decide", acrescenta o analista, lembrando que o futuro do planeta depende de ação imediata: "Não temos um plano B."
"O país precisará considerar como prioridade as cidades para fazer a lei nacional sobre mudanças climáticas (ainda não regulamentada) sair do papel", completa Abranches.
"O problema ambiental e social urbano é essencialmente político, pois há soluções já conhecidas e viáveis para torná-las mais sustentáveis", afirma o urbanista Jorge Wilheim, criador dos corredores de ônibus em São Paulo e responsável por projetos urbanos em diversas partes do país e do mundo. "A sustentabilidade, que certamente vai marcar o discurso político nas campanhas eleitorais, não pode ser uma palavra vazia", afirma o urbanista.
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