segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Londrina é cenário lógico para lavagem de dinheiro, diz novo delegado da Polícia Federal

FOLHA DE LONDRINA, 1 de agosto de 2010

Novo delegado-chefe da PF fala dos trabalhos contra a lavagem de dinheiro e o tráfico de drogas e garante ações para coibir também crimes eleitorais


O novo delegado-chefe da Polícia Federal (PF) em Londrina, Nilson Antunes, assume o posto oficialmente, nos próximos dias, com um diagnóstico prévio da cidade já imbuído do posto que até então ocupava na PF de Curitiba – onde era chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários: um dos grandes desafios de enfrentamento à criminalidade em Londrina, avalia, é a lavagem de dinheiro, que, em todo o País, movimenta milhões de reais.

Após sete anos Antunes volta a Londrina. Na PF londrinense, onde substituirá Evaristo Kuceki – que está se aposentando por tempo de corporação –, o delegado chefiou a unidade de combate e repressão a entorpecentes entre 2001 e 2003, antes de seguir para a PF de Itajaí (SC), onde ficou cinco anos, e de Curitiba. Foi na capital que, em janeiro passado, coordenou a investigação de um ano da ‘‘Operação Moeda Falsa’’, pela qual 20 pessoas foram presas, lá e em Barretos (SP), acusadas de integrar uma quadrilha especializada na falsificação de notas de R$ 100 e R$ 50.

Mais recentemente, o delegado que volta a Londrina foi uma das bases de ação da ‘‘Operação Parceria’’, a qual, em maio passado, prendeu 12 pessoas suspeitas de desvios de verbas públicas e formação de quadrilha por meio de convênios entre prefeituras e o Centro Integrado de Apoio Profissional (Ciap). Ao todo, 21 foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) e quatro, da cúpula da oscip, seguem presos em Curitiba. ‘‘Foi mesmo uma operação de parceria entre a PF e outros órgãos envolvidos (como Receita Federal, Gaeco e Controladoria Geral da União); acredito que uma das mais bem sucedidas já feitas no estado’’, avaliou.

Ontem, em entrevista à FOLHA, Antunes falou sobre os principais direcionamentos dos trabalhos da PF, na cidade e na região, e sobre a atuação da instituição durante as eleições gerais de outubro no sentido de coibir crimes eleitorais.

Para o delegado, além do combate ao tráfico de drogas – um dos setores que, afirmou, serão reforçados nos próximos meses, com ações administrativas já em curso –, a lavagem de dinheiro é fator de preocupação em cidades como Londrina, mesmo porque pode encobrir outras práticas criminosas.

‘‘Londrina já é uma metrópole, portanto, a criminalidade nela, hoje, não se resume ao tráfico de drogas. E como é uma cidade onde há um fluxo razoável de recursos, um crescimento imobiliário muito grande, nosso desafio é no sentido de trabalhar para combater a lavagem’’, disse, para completar: ‘‘Porque é justamente esse desenvolvimento em ritmo acelerado, em local propício, que pode atrair o delinquente que lava dinheiro – pois esse crescimento também é uma seara para esse tipo de delito. A gente percebe isso pelos nossos inquéritos e operações: que nessas localidades há uma forte tendência de simular capitais’’. E concluiu: ideias ligadas a desenvolvimento e pujança de uma cidade não podem remeter apenas ao que de bom há nelas. ‘‘Onde há uma cidade pujante, sempre tem alguém que vai tirar proveito disso e colocar dinheiro nessa pujança – e nem sempre dinheiro lícito. Pode-se dizer que todas as cidades com um bom desenvolvimento estão suscetíveis’’.

Sobre o combate de repressão ao tráfico de entorpecentes, o delegado-chefe definiu que a prioridade será atender a cidade e a circunscrição abrangida pela PF local, para, só então, dar apoio a outros estados, se solicitado. ‘‘Temos feito bons trabalhos, mas eles têm refletido em outras cidades, outros estados. Queremos atuar mais de forma localizada, pois é o cidadão daqui que paga nosso salário – e combater o tráfico é dar uma satisfação a quem paga nosso salário; à nossa casa’’.


"A sensação é a de que a impunidade impera no Brasil"
Além dos trabalhos de combate ao tráfico e à lavagem de dinheiro, a Polícia Federal (PF) tem uma missão extra este ano: coibir a prática de crimes eleitorais, dentre os quais a compra de votos é dos mais comuns, mas, também, dos mais difíceis de se prevenir.

Conforme o novo delegado-chefe da PF em Londrina, Nilson Antunes, para o pleito 2010 os planos de ação em apoio às outras polícias e à Justiça Eleitoral já estão prontos desde o início do ano.

''Cada delegacia fez seu planejamento para as eleições, com ações coordenadas por Brasília, no primeiro escalão, e, no nosso caso, também na Superintendência da PF no Paraná'', explicou. Segundo Antunes, ''todo o suporte'' será dado ''para que as eleições ocorram da melhor forma possível''.

Em crimes como o aliciamento de eleitores, no entanto, o delegado ressalva a importância de o cidadão denunciar esse tipo de prática ao Ministério Público Eleitoral (MPE), que encaminha a situação, se for o caso, aos policiais federais. ''Só existe a compra de votos se alguém vender. Dependemos muito das denúncias, pois sabemos que se trata de um crime muito disseminado - é uma ação mais repressiva nossa e das polícias Civil e Militar''. Sobre a expectativa para o que vem por aí, dada a proporção do atual processo eleitoral, Antunes resumiu: ''Será uma eleição bastante animada...''

Além das operações envolvendo o Ciap e a falsificação de dinheiro, o delegado também foi quem coordenou o inquérito instaurado em março, na capital, para investigar os chamados Diários Secretos da Assembleia Legislativa do Paraná. A reportagem quis saber dele - que é paulista de Itapetininga, mas tem sotaque do Sul - qual a sensação diante do trabalho sobre a casa política. ''É a sensação de que a impunidade realmente impera no Brasil'', desabafa. Se vê perspectivas de isso mudar? ''Só o dia em que o cidadão tiver de fato consciência da importância de seu voto e de dar uma boa educação a seu filho, a ponto de ele não trocar o próprio voto por uma compra de sacolão, uma promessa de emprego, e não trabalhar com pessoas que ofereçam isso a ele. Eis algo que se obtém só com educação e formação de pessoas, formação de caráter: não adianta se querer formar apenas bons profissionais.''

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