segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Censo 2010 mostrará mais que números

CORREIO BRAZILIENSE, 2 de agosto de 2010


A importância dos dados que o IBGE começa a colher hoje ultrapassa a mera contagem da população. Mais do que saber quantos somos, o Censo 2010 traçará o perfil de uma sociedade que sofreu profundas transformações ao longo de uma década. A mais importante é, sem dúvida, a ascensão das classes C e D. Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas, 49,22% da população subiu na escala social. O novo desenho da pirâmide demográfica significa mais que incremento da renda, que oscila entre R$ 1.115 e R$ 4.807. Significa alteração nos padrões de consumo. O enorme contingente de pessoas que viviam à margem integrou-se à economia de mercado.

Vários fatores respondem pela agregação do segmento mais pobre ao mundo capitalista. Entre eles, políticas públicas acertadas como o Bolsa Família e o Luz para Todos, que tiraram populações da idade média e as puseram nos trilhos da idade moderna. Mais acesso à escola melhorou o nível da educação, a qualificação profissional, os cuidados com a saúde e a higiene. As taxas de natalidade e mortalidade decresceram. O crédito mais fácil, decorrência do empréstimo consignado e farta oferta de catões de crédito, incrementou a procura por bens duráveis e semiduráveis.

Novos focos da pesquisa levantarão informações sobre como somos e como vivemos. Cor da pele, etnia, religião e preferência sexual pintarão com cores mais vivas os moradores dos 50 milhões de domicílios espalhados pelos 5.565 municípios. O recenseador observará o entorno das residências — iluminação pública, limpeza, segurança. Também obterá dados sobre o tempo gasto no deslocamento da casa para o trabalho ou para a escola.

O resultado, previsto para 27 de novembro próximo, mostrará o retrato de corpo inteiro do Brasil. Os dados demográficos atualizados e confiáveis apontarão os rumos das políticas públicas a serem adotadas no futuro. Elas terão de olhar para a frente e também responder a desafios antigos. Entre eles, o deficit habitacional, o saneamento básico, o analfabetismo de adultos, a segurança, a saúde e a qualidade do ensino. A degradação da infraestrutura deve ocupar lugar de destaque. Novos clientes significam mais consumo — de transporte, de estradas, de aeroportos, de energia, de lazer. O Estado tem de atender a demanda. Com informações corretas, a população fornecerá o insumo fundamental para traçar o rumo a seguir.

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