GAZETA DO POVO, 9 de novembro de 2009
Câmbio leva varejistas a aumentarem estoques de produtos de outros países
O retorno da cotação do dólar para um valor abaixo de R$ 2 vai garantir um Natal com fartura de produtos importados no comércio. Importadores e varejistas estão reforçando os estoques, em especial com bebidas, frutas, produtos de decoração e pequenos presentes.
A importação de bens de consumo, aqueles que vão direto para as prateleiras, foi a menos afetada pela crise. No período de janeiro a setembro deste ano, entraram no país US$ 14,8 bilhões em mercadorias, 10% menos do que em 2008. No total, as importações brasileiras caíram 31% no mesmo período.
A fase de maior retração na importação de bens de consumo foi no começo do ano. A média mensal de entrada de produtos no país foi subindo aos poucos e chegou em setembro ao maior valor do ano, US$ 2,1 bilhões. A tendência é que, com a chegada das encomendas de Natal, as compras no exterior volte ao nível pré-crise.
“Em função do câmbio, estamos reforçando nossas importações em quase 40%”, diz Edson Diegoli, diretor da Havan, rede varejista catarinense que tem lojas no Paraná. O executivo conta que aumentou as encomendas de tapetes, utensílios para a cozinha, confecções e de itens para decoração. Assim, os importados devem representar 20% dos produtos oferecidos pela Havan, contra 3% no ano passado.
A rede de supermercados Muffato mandou uma equipe em abril para fazer encomendas de Natal na China e na Índia. “Nesse caso, vamos pagar um pouco menos do que imaginávamos porque o dólar caiu”, explica Renata Cortez, gerente de importação da rede. “Agora vamos aproveitar para comprar mais frutas do que havíamos planejado”, completa. Ela conta que o câmbio mais baixo ajuda na escolha de itens com qualidade maior, como cerejas mais “gordinhas”, ou que ficaram fora das prateleiras no ano passado, como pêssegos em calda.
A rede Pão de Açúcar planeja aumentar em 10% a oferta de produtos importados neste Natal. As encomendas de frutas ficaram 20% maiores e a empresa pretende dobrar a quantidade de itens da marca própria Casino trazidos da França. A estratégia da marca própria também vale para as bebidas. Nesse caso, o Pão de Açúcar trabalha com vinhos com o rótulo Club des Sommeliers, para os quais projeta aumento de 20% nas vendas.
Na importadora Porto a Porto, as compras para o fim de ano tiveram um aumento de 20% na comparação com o ano passado. A expansão foi maior no estoque de vinhos, em especial os rótulos italianos e sul-africanos. Segundo o diretor comercial João Alceu Bobbato, os preços ao consumidor devem ficar estáveis em relação ao Natal passado. “Seguramos a tabela no começo da crise e, além disso, temos parte importante da importação em euros”, diz. A estabilidade nos preços, segundo ele, ajuda a elevar as vendas, já que a renda do brasileiro continuou subindo no último ano.
Com a meta de ampliar as vendas em até 10%, a Casa China, uma rede de 13 lojas que vende produtos populares, aumentou em 20% as encomendas de importados. “O dólar ajudou a aumentar a variedade de produtos e conseguimos trazer itens um pouco mais sofisticados para a faixa de preço final com a qual trabalhamos”, conta Adecio Toshiaki Nomura, diretor da rede. Ele conta que um terço dos brinquedos e dois terços dos enfeites natalinos são importados, quase todos da China.
Indústria reclama da competição
Para a indústria nacional, a entrada de importados representa o risco de perder mercado durante a retomada da economia. Diversos setores, como calçadista, de brinquedos e de confecções, reclamam que não conseguem competir com fornecedores estrangeiros. O principal alvo da reclamação é a China. Recentemente, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), fez um levantamento mostrando que os preços de vários produtos chineses caíram mais do que a variação cambial, ou seja, ficaram mais baratos em dólares.
“A China perdeu parte das vendas que fazia para Estados Unidos, Europa e Japão por causa da crise. Esses produtos precisam ser colocados em outros mercados, entre eles o Brasil”, diz Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit). A reclamação procede para algumas mercadorias, como roupas e acessórios em geral, e tecidos de malha, cujas importações continuaram subindo em 2009.
Na opinião de Pimentel, o risco de perder a competição para a China decorre de uma combinação de dois fatores. O primeiro é o câmbio fixo chinês – sua moeda, o renminbi, não ganhou força diante do dólar, como ocorreu com o real, que se valorizou 26% em 2009. Além disso, há problemas internos, como a infraestrutura problemática e a alta carga tributária. “O varejo de vestuário teve uma queda de 6% neste ano, enquanto a produção interna caiu 10%. A diferença foi preenchida por importados”, completa Pimental.
A pressão dos chineses fez com que a indústria calçadista conquistasse uma proteção adicional. Desde o mês passado, é cobrada uma sobretaxa de US$ 12,47 por par de calçados que vem da China, além da tarifa de 35%. Com isso, a entrada desse tipo de produto caiu 20%, segundo a Abicalçados, associação que representa o setor. O movimento foi criticado por marcas que dependem do fornecimento externo, como a Nike, que conseguiu uma liminar retirando a sobretaxa de tênis de alta performance. (GO)
Câmbio leva varejistas a aumentarem estoques de produtos de outros países
O retorno da cotação do dólar para um valor abaixo de R$ 2 vai garantir um Natal com fartura de produtos importados no comércio. Importadores e varejistas estão reforçando os estoques, em especial com bebidas, frutas, produtos de decoração e pequenos presentes.
A importação de bens de consumo, aqueles que vão direto para as prateleiras, foi a menos afetada pela crise. No período de janeiro a setembro deste ano, entraram no país US$ 14,8 bilhões em mercadorias, 10% menos do que em 2008. No total, as importações brasileiras caíram 31% no mesmo período.
A fase de maior retração na importação de bens de consumo foi no começo do ano. A média mensal de entrada de produtos no país foi subindo aos poucos e chegou em setembro ao maior valor do ano, US$ 2,1 bilhões. A tendência é que, com a chegada das encomendas de Natal, as compras no exterior volte ao nível pré-crise.
“Em função do câmbio, estamos reforçando nossas importações em quase 40%”, diz Edson Diegoli, diretor da Havan, rede varejista catarinense que tem lojas no Paraná. O executivo conta que aumentou as encomendas de tapetes, utensílios para a cozinha, confecções e de itens para decoração. Assim, os importados devem representar 20% dos produtos oferecidos pela Havan, contra 3% no ano passado.
A rede de supermercados Muffato mandou uma equipe em abril para fazer encomendas de Natal na China e na Índia. “Nesse caso, vamos pagar um pouco menos do que imaginávamos porque o dólar caiu”, explica Renata Cortez, gerente de importação da rede. “Agora vamos aproveitar para comprar mais frutas do que havíamos planejado”, completa. Ela conta que o câmbio mais baixo ajuda na escolha de itens com qualidade maior, como cerejas mais “gordinhas”, ou que ficaram fora das prateleiras no ano passado, como pêssegos em calda.
A rede Pão de Açúcar planeja aumentar em 10% a oferta de produtos importados neste Natal. As encomendas de frutas ficaram 20% maiores e a empresa pretende dobrar a quantidade de itens da marca própria Casino trazidos da França. A estratégia da marca própria também vale para as bebidas. Nesse caso, o Pão de Açúcar trabalha com vinhos com o rótulo Club des Sommeliers, para os quais projeta aumento de 20% nas vendas.
Na importadora Porto a Porto, as compras para o fim de ano tiveram um aumento de 20% na comparação com o ano passado. A expansão foi maior no estoque de vinhos, em especial os rótulos italianos e sul-africanos. Segundo o diretor comercial João Alceu Bobbato, os preços ao consumidor devem ficar estáveis em relação ao Natal passado. “Seguramos a tabela no começo da crise e, além disso, temos parte importante da importação em euros”, diz. A estabilidade nos preços, segundo ele, ajuda a elevar as vendas, já que a renda do brasileiro continuou subindo no último ano.
Com a meta de ampliar as vendas em até 10%, a Casa China, uma rede de 13 lojas que vende produtos populares, aumentou em 20% as encomendas de importados. “O dólar ajudou a aumentar a variedade de produtos e conseguimos trazer itens um pouco mais sofisticados para a faixa de preço final com a qual trabalhamos”, conta Adecio Toshiaki Nomura, diretor da rede. Ele conta que um terço dos brinquedos e dois terços dos enfeites natalinos são importados, quase todos da China.
Indústria reclama da competição
Para a indústria nacional, a entrada de importados representa o risco de perder mercado durante a retomada da economia. Diversos setores, como calçadista, de brinquedos e de confecções, reclamam que não conseguem competir com fornecedores estrangeiros. O principal alvo da reclamação é a China. Recentemente, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), fez um levantamento mostrando que os preços de vários produtos chineses caíram mais do que a variação cambial, ou seja, ficaram mais baratos em dólares.
“A China perdeu parte das vendas que fazia para Estados Unidos, Europa e Japão por causa da crise. Esses produtos precisam ser colocados em outros mercados, entre eles o Brasil”, diz Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit). A reclamação procede para algumas mercadorias, como roupas e acessórios em geral, e tecidos de malha, cujas importações continuaram subindo em 2009.
Na opinião de Pimentel, o risco de perder a competição para a China decorre de uma combinação de dois fatores. O primeiro é o câmbio fixo chinês – sua moeda, o renminbi, não ganhou força diante do dólar, como ocorreu com o real, que se valorizou 26% em 2009. Além disso, há problemas internos, como a infraestrutura problemática e a alta carga tributária. “O varejo de vestuário teve uma queda de 6% neste ano, enquanto a produção interna caiu 10%. A diferença foi preenchida por importados”, completa Pimental.
A pressão dos chineses fez com que a indústria calçadista conquistasse uma proteção adicional. Desde o mês passado, é cobrada uma sobretaxa de US$ 12,47 por par de calçados que vem da China, além da tarifa de 35%. Com isso, a entrada desse tipo de produto caiu 20%, segundo a Abicalçados, associação que representa o setor. O movimento foi criticado por marcas que dependem do fornecimento externo, como a Nike, que conseguiu uma liminar retirando a sobretaxa de tênis de alta performance. (GO)
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