segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Serra diz que enfrentou 'forças terríveis' na campanha e se despede com 'até logo'

O ESTADO DE S. PAULO, 1 de novembro de 2010

Tucano cita vitórias nos Estados como exemplo de força da oposição, ignora Aécio Neves e faz elogios a Alckmin


Derrotado pela segunda vez na corrida pelo Palácio do Planalto, Serra fez um breve discurso ao lado da família e das principais lideranças da oposição no final da noite de ontem. Durante os 10 minutos em que falou, sinalizou que pretende se manter como protagonista no cenário político brasileiro. "Quis o povo que não fosse agora", afirmou o tucano, com os olhos marejados.

"Para os que nos imaginam derrotados, eu quero dizer: nós estamos apenas começando uma luta de verdade. Estamos no começo do começo desta luta. E nós vamos dar nossa contribuição ao País em defesa da pátria, da liberdade, da democracia e do direito que todos têm de falar e da justiça social", afirmou Serra. "Vamos dar nossa contribuição, nossa frente de partidos, de indivíduos e de parlamentares. Essa será nossa luta", completou.

Acompanhado dos presidentes do PSDB, Sérgio Guerra (PE), do DEM, Rodrigo Maia (RJ), do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, do prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), entre outros, o tucano disse receber a derrota com "respeito e humildade". Agradeceu a votação e os militantes, cumprimentou Dilma pela vitória, desejando que "faça bem" para o País, e enalteceu o empenho da campanha do PSDB em combater, segundo ele, "forças terríveis" em "meses duríssimos".

Confiança. Aliados disseram que o tucano recebeu com serenidade e tranquilidade o resultado, mas que ficou bastante "abatido" com a derrota. "Achei que fosse ganhar", teria dito Serra a um dos coordenadores de sua campanha. Antes de receber a notícia, o tucano estava confiante. Almoçou no Palácio dos Bandeirantes com os principais apoiadores de sua campanha e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que se manteve afastado durante a disputa eleitoral. No encontro, Serra fez piadas e contou histórias das viagens que fez pelo País.

Após a definição de que a vitória de Dilma era irreversível, o tucano refugiou-se na casa do secretário de Cultura, Andrea Matarazzo, no Jardim América, para escrever o discurso da derrota. Enquanto isso, líderes do DEM, PSDB e PPS reuniram-se para discutir o futuro da oposição e a forma como os partidos se posicionarão diante do governo Dilma.

Numa tentativa de mostrar que a oposição não estaria enfraquecida com sua derrota, Serra citou a vitória de dez governadores do PSDB nas urnas. Falou, especialmente, de Alckmin, com quem manteve relação conflituosa no passado. Os dois tucanos acabaram a corrida eleitoral mais próximos, em razão do empenho do governador eleito na eleição presidencial - o candidato, porém, não citou o senador eleito por Minas Gerais Aécio Neves.

"Quero lembrar ainda que ao lado desses 43 milhões e 600 mil recebemos também votos que elegeram dez governadores, que nos apoiaram em todo o nosso País, entre os quais um está presente", observou Serra. "Meu querido companheiro de muitas jornadas Geraldo Alckmin. Você se empenhou na minha eleição mais do que se empenhou na sua, sinceramente", anotou.

Serra agradeceu à população a energia que recebeu e brincou sobre o que fará com ela no futuro. "Recebi toda a energia para essa campanha - foram sete meses, de muita movimentação e equilíbrio também - que foi necessário. Chego hoje nessa etapa final com a mesma energia, o problema é como despender essa energia, que me foi passada por todo o Brasil", disse o tucano.

Após encerrar seu discurso, pediu a todos que cantassem os últimos versos do Hino Nacional, que considera "muito significativos". Em seguida, cumprimentou correligionários e sua mulher, Monica Serra. Ao finalizar, chamou ao palco a filha, Verônica, alvo de quebra de sigilo fiscal em episódio que marcou a campanha presidencial.

Serra já havia encerrado o discurso, quando Verônica cochichou em seu ouvido. Havia esquecido de agradecer alguém. "E um abraço ao Fernando Henrique, que está nos assistindo pela TV", assinalou.


O Discurso de José Serra

No dia de hoje, os eleitores falaram e nós recebemos com respeito e humildade a voz do povo. Quero aqui cumprimentar a candidata eleita Dilma Rousseff (PT) e desejar que ela faça bem para o nosso país.

Eu disputei com muito orgulho a Presidência da República. Quis o povo que não fosse agora. Mas digo, aqui, de coração, que sou muito grato aos 43,6 milhões de brasileiros e brasileiras que votaram em mim. Sou muito grato a todos e a todas que colocaram um adesivo, uma camiseta que carregaram uma bandeira com Serra 45.

Quero agradecer também aos milhões de militantes que lutaram nas ruas e na internet por um Brasil soberano, democrático e que seja propriedade do seu povo.

Eu recebi tanta energia nessa campanha, foram sete meses de muita energia, de muita movimentação e de muito equilíbrio também, que foi necessário. E eu chego hoje, nesta etapa final, com a mesma energia que tive ao longo dos últimos meses. O problema é como dispender essa energia nos próximos dias e semanas

Ao lado desses 43,6 milhões de votos, nós recebemos, também, votos que elegeram dez governadores que nos apoiaram. Dos quais, um está presente. Um companheiro de muitas jornadas, Geraldo Alckmin. Ele se empenhou na minha eleição, mais do que se empenhou na dele

A maior vitória que nós conquistamos nessa campanha não foi mérito meu, mas foi de vocês [imprensa]. Nesses meses duríssimos, onde enfrentamos forças terríveis, vocês alcançaram uma vitória estratégica no Brasil. Cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza, consolidaram um campo político de defesa da liberdade e da democracia do Brasil

Vi centenas e milhares de jovens que me lembraram o jovem que eu fui um dia, sonhando e lutando por um país melhor, como eu faço até hoje. Onde os políticos fossem servidores do povo e não se servissem do nosso povo

Para os que nos imaginam derrotados, eu quero dizer: nós apenas estamos começando uma luta de verdade. Nós vamos dar a nossa contribuição ao país, em defesa da pátria, da liberdade, da democracia, do direito que todos têm de falar e de serem ouvidos. Vamos dar a nossa contribuição como partidos, como parlamentares, como governadores. Essa será a nossa luta

Por isso a minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo. A luta continua. Viva o Brasil.

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