quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Brasileiro nunca consumiu tanto, mas saneamento e educação patinam

O ESTADO DE S. PAULO, 9 de setembro de 2010

Enquanto o consumo de bens duráveis manteve crescimento, caiu parcela de domicílios atendidos por rede de esgoto


Os avanços sociais dos últimos anos resistiram à crise de 2009, quando houve continuidade do aumento da renda, da expansão do consumo e da queda da desigualdade que já persistem há vários anos. Para os 10% mais pobres, porém, a expansão da renda perdeu fôlego.

Já o desemprego teve o maior salto desde 2001, com um aumento de 1,3 milhão de desocupados em relação a 2008. A renda real média do trabalho, por sua vez, ainda está abaixo do nível que prevaleceu entre 1995 e 1998.

Esses são alguns dos principais resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2009, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"A Pnad de 2009 mostra que, mesmo num ano de crise, o Brasil avançou na redução da desigualdade e da pobreza, o que é muito bom, mas é preocupante a queda no ritmo de aumento da renda dos 10% mais pobres", avalia Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considerado um dos maiores especialistas na área social do Brasil.

Ele notou que a velocidade da queda da extrema pobreza diminuiu em 2009. No ano passado, segundo a linha de extrema pobreza do Ipea, 8,4% dos brasileiros estavam nesta situação, ante 8,8% em 2008, com queda de 0,4 ponto porcentual. Já a redução da extrema pobreza de 2007 para 2008 foi mais de três vezes maior, de 1,5 ponto porcentual, saindo de 10,3% em 2007.

A Pnad 2009 revelou ainda que, em algumas áreas nas quais o Brasil progride muito lentamente há décadas, incluindo os bons anos de 2004 a 2008, o ritmo permaneceu moroso no ano passado. É o caso, por exemplo, do saneamento básico, onde inclusive houve redução na proporção de domicílios atendidos por rede de esgoto ou fossa séptica ligada à rede de esgoto.

Por outro lado, manteve-se a tendência de crescimento do consumo de bens duráveis, com destaque para máquinas de lavar roupa, microcomputadores, celulares e aparelhos de DVD, que já estão em 72% dos domicílios.

Desemprego e renda. Segundo a Pnad 2009, a taxa de desocupação em setembro de 2009, quando a pesquisa foi a campo, foi de 8,3%, ante 7,1% no mesmo mês de 2008. Em números absolutos, o número de desocupados no Brasil saltou de 7,1 milhões para 8,4 milhões entre setembro de 2008 e 2009, uma alta de 18,5%, a maior desde 2002, período para o qual há dados comparáveis.

Cimar Azeredo, da área de trabalho do IBGE, ressaltou, porém, que o aumento do desemprego aconteceu com estabilidade da população ocupada. Os ocupados em setembro de 2009 eram 92,7 milhões, com uma leve alta de 0,3% ante 2008. A alta do desemprego, portanto, deveu-se ao crescimento de 1,6% na população economicamente ativa, que saiu de 99,5 milhões em 2008 para 101,1 milhões em 2010.

Apesar do salto nos desocupados, o mercado de trabalho teve bons resultados em termos de formalização, como o aumento de 58,8% para 59,6% (entre 2008 e 2009) do número de pessoas empregadas com carteira de trabalho assinada. O rendimento real médio do trabalho, por sua vez, subiu de R$ 1.082 para R$ 1.106 entre 2008 e 2009, com alta de 2,2%.

Ainda assim, a renda média do trabalho ainda está abaixo do nível entre 1995 e 1998, quando variou de R$ 1.113 a R$ 1.121, com um pico de R$ 1.144 em 1996. A distribuição de renda do trabalho continuou a melhorar em 2009, com uma queda do índice de Gini dos rendimentos de 0,521, em 2008, para 0,518, em 2010.

O índice de Gini varia de zero a 1, e, quanto maior, pior é a distribuição de renda. O Gini da renda do trabalho vem caindo desde 1993, quando atingiu 0,600. A queda de 0,3 do Gini em 2009, porém, representa uma desaceleração em relação ao ritmo de redução em 2007 e 2008, quando as melhoras foram de 1,3 e 0,7 .

Segundo Paes de Barros, a evolução do índice de Gini do rendimento familiar total per capita manteve em 2009 o ritmo dos últimos sete anos, que ele considera "maravilhoso". Segundo seus cálculos, o indicador passou de 0,544 em 2008 para 0,539 em 2010. A queda é de 1%, exatamente o ritmo anual desde 2002.

Trabalho infantil. O Brasil continuou a reduzir o trabalho infantil em 2009, quando foram registradas 4,25 milhões de pessoas de 5 a 17 anos trabalhando, ou 202.000 a menos que em 2008. O ritmo de queda, porém, foi menor, e houve um pequeno aumento do trabalho na faixa de 14 a 15 anos no Nordeste.

A taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais caiu de 10% em 2008 para 9,7% em 2009, com redução de 0,3 ponto porcentual, melhor do que o avanço de apenas 0,1 entre 2007 e 2008. A Pnad 2009 também confirmou o lento, porém progressivo avanço nos últimos anos do abastecimento de água, da coleta de lixo e da iluminação elétrica. Houve recuo em 2009, porém, para 59,1% (ante 59,3%) na proporção de domicílios ligados à rede coletora de esgotos, ou com fossa ligada à rede.

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