quarta-feira, 28 de julho de 2010

Paraná não sabe quanto gera de efeito estufa

GAZETA DO POVO, 28 de julho de 2010

Inventário deveria ter sido feito em 2008, mas o governo estadual suspendeu os recursos. Agora, quer implantar a Política Estadual sobre Mudança do Clima


O Paraná desconhece os efeitos da concentração dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera do estado. O inventário para descobrir quanto as atividades socioeconômicas contribuem para o aquecimento global deveria ter sido feito em 2008, mas o governo estadual suspendeu os recursos destinados para esse fim, segundo a coordenadora de Mudanças Climáticas da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), Manya Chang. “O Paraná está atrasado porque não houve vontade política para implementar as ações”, lamenta.

O aquecimento global, tão debatido mundialmente, está intimamente ligado ao aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono, o metano e os óxidos de nitrogênio. Os gases contribuem para a intensificação do efeito estufa, fenômeno natural que regula a temperatura da Terra, causando o aumento da temperatura média global. A maior concentração dos gases na atmosfera terrestre, por sua vez, está relacionada às atividades desenvolvidas pelo homem, como emissões de poluentes por veículos e indústrias, as queimadas e o desmatamento.

As mudanças no uso do solo e a agropecuária estão entre as principais atividades humanas responsáveis pela emissão dos GEE (veja box abaixo). De acordo com dados divulgados mês passado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, a agricultura é a atividade que ocupa a maior extensão territorial do Paraná (66%), seguida pelas áreas de pastagem (14%).

No Brasil, 75% das emissões de dióxido de carbono são provenientes de alterações no uso da terra e de queimadas, principalmente em virtude do desmantamento da Amazônia e do Cerrado, principais biomas brasileiros. Por causa disso, o Brasil está entre os cinco maiores emissores desses gases no mundo.

Para reverter essa condição, o governo brasileiro se comprometeu a reduzir as emissões entre 38% e 42% até 2020. O compromisso foi assumido durante a Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-15), em Copenhague, Dinamarca, onde, além do Brasil, a África do Sul, a China, a Índia e os Estados Unidos assinaram o Acordo de Copenhague, que propõe algumas metas de redução.

No Paraná, a expectativa agora é que o projeto de lei encaminhado há duas semanas para a Assembleia Legislativa seja aprovado o quanto antes. A proposta prevê a implantação da Política Estadual sobre Mudança do Clima, que estabelece um plano estadual para reduzir as emissões de GEE e implementar ações de adaptação. “A aprovação da lei será só o primeiro passo para disciplinar tudo o que já está sendo feito no estado”, diz Manya Chang.

De acordo com a coordenadora de Mudanças Climáticas da Sema, a aprovação do projeto deve estimular, além do inventário, o desenvolvimento de um programa de educação ambiental sobre o assunto, a aplicação de um projeto para capacitação de técnicos, professores e funcionários públicos de municípios paranaenses, a implementação de Fundo de Mudanças Climáticas e criação de um registro estadual para monitorar a emissão, redução e sequestro de gases de efeito estufa no estado. Entre as diretrizes da política estadual estão ações de incentivo à pesquisa e difusão de tecnologias, capacitação e conscientização sobre as causas e efeitos da mudança do clima, aumento das fontes de energias renováveis, incentivo à agroecologia e ao transporte sustentável, preservação, conservação e recuperação dos recursos naturais, entre outras.

O projeto de lei foi discutido pelo Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas, formado por representantes de aproximadamente 35 instituições públicas, privadas, universidades e sociedade civil. O plano será coordenado pela Sema e irá incorporar a questão da mudança do clima no planejamento das políticas públicas do estado. Uma das incumbências do governo estadual será a inclusão de critérios de sustentabilidade ambiental em licitações e concorrências públicas, como economia de energia, água e outros recursos naturais, redução de geração de resíduos e de emissão de gases de efeito estufa e uso de produtos e serviços menos intensivos em emissão de gases de efeito estufa.

Curitiba faz levantamento - Em outubro, Curitiba terá seu primeiro inventário sobre gases do efeito estufa. O estudo está ana­­lisando desde as emissões de gases pelas frotas de veículos, indústrias, comércio, até as atividades agropecuárias. O resultado do inventário será comparado ao estudo de absorção de carbono pelas florestas urbanas, feito ano passado em parceria com a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS). Por enquanto, o estudo mostrou que as florestas públicas e particulares da cidade têm 1,16 bilhão de toneladas de carbono estocado em sua biomassa (galhos, troncos, folhas e raízes), o que representa 4,25 milhões de toneladas de dióxido de carbono a menos no ar.

Iniciativa privada - Além do poder público, algumas iniciativas privadas também estimulam a redução da emissão dos GEE. O Palladium Shopping Center, no bairro Portão, lançou em 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, o Programa de Compensação de Carbono. O público recebeu calculadoras de papel para contar quanto cada um emite de gases de efeito estufa em um ano e quantas árvores nativas precisam ser plantadas como compensação. No site da campanha, os clientes poderiam escolher entre buscar as mudas para plantá-las ou deixar que o próprio shopping se encarregasse do plantio. Em menos de cinco dias, mais de 3 mil pessoas já haviam acessado o página na internet para solicitar o plantio. A intenção é que até o fim do ano, 50 mil árvores sejam plantadas em áreas próximas aos rios Iraí e Palmital, localizados em Pinhais, região metropolitana, e outras nascentes e mananciais que abastecem Curitiba.

A coordenadora de Mudanças Climáticas da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Manya Chang, diz que iniciativas como essa contribuem para a conscientização da população e de empresas. “Em breve, quem emite terá que cumprir metas de redução”, explica. Ela ressalta, por outro lado, que é importante ter um plano de manejamento para garantir que as árvores cheguem à fase adulta e realmente contribuam para reduzir a concentração dos GEE na atmosfera. As plantas são responsáveis pela absorção de parte do gás carbônico da atmosfera, através do processo de fotossíntese.

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