sexta-feira, 9 de julho de 2010

Investimentos do Paraná ficam bem abaixo da média nacional

GAZETA DO POVO, 9 de julho de 2010

Estudo do Dieese revela que o governo paranaense aumentou apenas 15,9% os gastos com obras na última década. No país, o crescimento foi de 67,3%


O nível de investimentos públicos do governo do Paraná em obras ficou bem abaixo ao do restante do país na última década. De 2000 a 2009 – período que engloba o fim da gestão de Jaime Lerner (1994-2002) e a administração de Roberto Requião (2003-2010) – os gastos de recursos próprios com infraestrutura cresceram apenas 15,93% no estado, passando de R$ 976,2 milhões para R$ 1,13 bilhão ao ano. A média nacional de aumento de investimentos no mesmo período foi de 67,34%. Com esse desempenho, o estado ocupa apenas o 18.º lugar dentre as 27 unidades federativas do país no ranking de montante aplicado em obras.

Os dados são de um levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos e Sociais (Dieese) que será divulgado hoje em um seminário promovido pelo Sin­­dicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (Senge).

Considerando apenas os gastos realizados em 2009, a situação paranaense é um pouco melhor. O estado ocupa a 12.ª posição entre os que mais investem. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o Paraná volta a ser destaque negativo. Investiu somente 0,59% das riquezas produzidas em 2009. Neste comparativo, apenas o Rio Grande do Sul (com 0,32%) aplicou menos do que o governo paranaense. No outro extremo está o Acre, que investiu 14,92% do seu PIB.

Ao longo da última década, é possível notar que estados com economias menores que a do Paraná aumentaram muito mais seus investimentos. O Piauí, por exemplo, elevou o valor –que era de R$ 63 milhões em 2000 –em 1.496%, passando para R$ 995 milhões, em 2009. No topo da lista também estão Acre, Mato Grosso e Rondônia.

Para o professor Fabrício Ricardo Tomio, do Departamento de Ciência Política da UFPR, comparar esses estados com o Paraná é como colocar lado a lado a economia da Suíça e da Índia, com realidades díspares. “No passado, alguns desses estados não tinham contratação de pessoal, seja em educação, saúde ou segurança em grande escala”, diz. Assim, com uma folha de pagamento menor, haveria um porcentual da receita disponível maior para investir em infraestrutura.

O responsável pelo levantamento do Dieese, o economista Fabiano Camargo da Silva, também ressalta que o impacto que uma obra gera no PIB, na população e na receita é mais elevado em estados mais pobres.

No comparativo dos investimentos com os gastos públicos totais, o governo paranaense investiu em 2009 apenas 5,75% de suas despesas totais. Isso é equivalente a só R$ 105 para cada habitante do Paraná. Em São Paulo, estado com população maior que a do Paraná, o valor chega a R$ 347.

“Mais investimento pode implicar alta do custeio do estado”, afirma Tomio. Segundo ele, o custo para a construção de um hospital é mais baixo do que o de mantê-lo, com a contratação de pessoal. E é justamente em áreas de menor interesse das empresas [estatais ou privadas], como saúde, saneamento ou moradia social, que o investimento do governo é mais necessário. “A infraestrutura é o grande gargalo do investimento, pois não há nem alternativa de privatização”, afirma Valter Fanini, presidente do Senge, que encomendou o levantamento do Dieese. Para ele, o baixo nível de investimento só é possível de ser revertido com planejamento de longo prazo, pois a tendência é que obras sejam paralisadas nos momentos ruins. “Nas crises, a primeira coisa que vai para o espaço é o investimento.”

Comentários, só hoje

A Secretaria de Estado do Planejamento foi procurada para comentar o estudo. Mas informou, por meio da assessoria de imprensa, que só vai comentar o assunto hoje.

O levantamento completo será apresentado hoje no seminário “Investimento Público: análise e perspectiva”, promovido pelo Senge no Centro Integrado de Empresários e Trabalhadores do Estado do Paraná (Cietep), em Curitiba. Haverá palestras com Márcio Pochmann, presidente do Insituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea); Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES; e Antônio Henrique Pinheiro Silveira, secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda. As inscrições para o evento já estão encerradas.

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