quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

PT resgata seus mensaleiros em novo Diretório Nacional

FOLHA DE S. PAULO, 24 de janeiro de 2010

O PT oficializou ontem (23) a volta de nomes envolvidos no escândalo do mensalão à direção do partido. Conforme indicação da corrente majoritária da legenda, a CNB (Construindo um Novo Brasil), José Dirceu, João Paulo Cunha e José Genoino irão compor o novo Diretório Nacional, que tomará posse no mês que vem.

A campanha da candidata do partido à Presidência, ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), promoverá outra reedição: a do grupo de sindicalistas bancários que originou os "aloprados" e desempenhará funções estratégicas, como a centralização da captação de recursos.

"Não tem sentido prescindir da experiência desses companheiros num momento tão importante como este [pré-campanha da ministra Dilma Rousseff à Presidência]", disse o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra (SE), à frente da CNB. As indicações foram aclamadas em plenário no congresso da chapa que venceu as eleições em novembro de 2009.

Outras duas correntes, Novo Rumo e PT de Lutas e de Massas, participaram do evento, em São Roque (SP), e apoiaram as indicações da CNB. Dirceu, Genoino e João Paulo foram afastados das instâncias partidárias no final de 2005, ano em que o caso do mensalão veio à tona.

Dirceu, ex-ministro da Casa Civil que deixou o cargo no ápice do escândalo, e os deputados federais Genoino e João Paulo são réus no processo do Supremo Tribunal Federal que julgará o mensalão --transferência de verbas supostamente públicas para congressistas da base aliada ao presidente Lula no Congresso. Eles negam a participação no esquema.

"Primeiro, para mim, não existe esse termo, mensaleiros. Depois, é um orgulho fazer parte da chapa ao lado de Dirceu, Genoino e João Paulo", disse Dutra. Na próxima terça, as três correntes, que formaram uma só chapa, apresentarão ao atual comando do partido seus 45 indicados ao Diretório Nacional.

Nem as demais correntes nem o atual comando têm direito de vetar as indicações se os militantes estiverem em dia com suas obrigações estatutárias. Assim, é praticamente certo que Dirceu, Genoino e João Paulo terão direito a voto entre os 81 membros do Diretório.

Serão apresentados também os nomes do deputado federal José Nobre Guimarães (CE), que teve um ex-assessor detido com US$ 100 mil na cueca em 2005, e de Mônica Valente, mulher do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, pivô do mensalão e hoje afastado do partido.

Dilma
Já na campanha de Dilma, o núcleo responsável pela arrecadação e gestão dos recursos será formado por petistas egressos do sindicalismo bancário. Foi esse o grupo que comandou a reeleição de Lula em 2006 e originou os chamados "aloprados" --encarregados da compra de um dossiê contra José Serra, então postulante ao governo paulista e provável adversário da ministra agora.

Saíram do sindicalismo bancário os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e José Pimentel (Previdência), os presidentes dos dois maiores fundos de pensão do país, Sérgio Rosa (Previ) e Wagner Oliveira (Petros), o atual presidente do PT, Ricardo Berzoini, e o provável tesoureiro da sigla, João Vaccari Neto, entre outros.

Berzoini coordenou a reeleição de Lula até ser afastado, após o escândalo dos "aloprados". Jorge Lorenzetti, o "centralizador" da negociação do material em favor da campanha do então candidato Aloizio Mercadante, reportava-se ao atual presidente do PT.

Berzoini e Vaccari, também investigado pela Polícia Federal no inquérito dos "aloprados", terão papel fundamental na campanha de Dilma.

No mês que vem, Berzoini será substituído por Dutra na presidência do PT. Não deve integrar a coordenação central da campanha, mas será um dos articuladores em São Paulo, por onde tentará se reeleger deputado federal. Além disso, deve conseguir emplacar Vaccari como novo tesoureiro do PT.

Dutra e Berzoini ressaltam que Vaccari não necessariamente será o responsável pelas finanças da campanha. "Ele vai administrar o dinheiro do partido e aplicá-lo de acordo com as orientações. E estará em contato com o comitê financeiro de campanha", disse Dutra.

Hoje, é quase impossível separar a conta eleitoral dos recursos do partido, pois os empresários priorizam as contribuições às siglas, o que impede a identificação de beneficiários.

Nenhum comentário: