quarta-feira, 16 de junho de 2010

Saldo comercial do Paraná é o pior em oito anos

GAZETA DO POVO, 16 de junho de 2010

Ritmo de expansão das importações, de 52% no ano, é o triplo do registrado pelas exportações do estado


O saldo da balança comercial do Paraná é o mais fraco dos últimos oito anos. De janeiro a maio, a diferença entre o que o estado vende ao exterior e o que ele compra de outros países ficou em US$ 535 milhões, valor 60% inferior ao de igual período de 2009 e o pior desde 2002. Determinado pelo explosivo crescimento das importações, esse desempenho reflete o descompasso que existe entre o comportamento da economia brasileira e o de seus principais clientes lá fora.

Embora tenham avançado 18% nos cinco primeiros meses do ano, para um total de US$ 5,2 bilhões, as exportações do Paraná demoram mais a superar os traumas da crise internacional: seu atual nível ainda é 15% inferior ao recorde atingido em 2008, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). As importações também não alcançam a marca de dois anos atrás – estão 10% abaixo –, mas seu ritmo de crescimento é bem mais veloz, e vem se acelerando. No primeiro trimestre do ano, as compras de importados eram 46% maiores que em igual período de 2009; no acumulado dos primeiros cinco meses, quando as importações somaram US$ 4,7 bilhões, o índice de expansão subiu para 52%. Ou seja, o triplo do registrado pelas exportações.

Apetite da indústria - Os números do MDIC revelam que esse movimento vem sendo alimentado por todas as categorias de produtos. Mas o principal destaque vai para as importações feitas pela indústria, em especial de mercadorias enquadradas como “bens intermediários”, usados para a produção de outros produtos, cuja fatia na pauta paranaense passou de 43% para 45% entre 2009 e 2010. A compra de matérias-primas industriais cresceu 50% até maio, para US$ 1,3 bilhão. A importação de “peças e acessórios de equipamentos de transporte” – componentes para veículos, por exemplo – mais que dobrou, atingindo quase US$ 600 milhões.

O apetite da indústria explica por que as compras de determinados itens já atingem recordes históricos, superando até mesmo os números de 2008. É o caso de aparelhos e materiais elétricos (circuitos integrados, interruptores e outros), cujas vendas superam em 42% os volumes de dois anos atrás, e também de componentes eletrônicos. Das 40 maiores importadoras do estado, 10 são compradoras de tais materiais e componentes, com destaque para a Positivo Informática e a Nokia Siemens Networks. Também bateram recordes as compras de plásticos (12%), borrachas (inclusive pneus, com 61% de alta) e até laminados de ferro e aço, cujas importações triplicaram em relação a 2008.

Risco de substituição - Os bens intermediários abastecem uma indústria em franco crescimento. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial paranaense, que de janeiro a abril cresceu 12% sobre o mesmo período do ano passado, já atingiu patamar 1,6% superior ao de setembro de 2008, tido como último mês do pré-crise. No entanto, um avanço tão acentuado das importações levanta a suspeita de que mercadorias do exterior, eventualmente mais baratas por causa do câmbio, possam estar substituindo equivalentes paranaenses ou brasileiras, risco apontado há vários anos por empresários e economistas críticos da valorização do real.

Também crescem a importação de petróleo e derivados (58% a mais que em 2009) e de bens de consumo (54%) – produtos prontos para a venda ao consumidor e que atendem ao constante crescimento do varejo, que, no caso paranaense, foi de 15% no primeiro trimestre, segundo o dado mais recente do IBGE. A categoria com menor crescimento das importações foi a de bens de capital, ou seja, máquinas e equipamentos adquiridos pela indústria para elevar a produtividade – segmento que, ainda assim, registrou considerável avanço de 41% nos primeiros cinco meses do ano.

Nenhum comentário: