segunda-feira, 24 de maio de 2010

“O que move a política é o interesse do eleitor”, diz diretor da Transparência Brasil

GAZETA DO POVO, 24 de maio de 2010

Cláudio Weber Abramo, diretor executivo da ONG Transparência Brasil fala sobre corrupção e o interesse do cidadão pela política


Se a corrupção é ou não uma das responsáveis pela falta de interesse de grande parte da população pela política, só uma pesquisa poderia responder. Mas que ela é um mal e que as causas desse problema devem ser combatidas, não há dúvidas, conta o jornalista e diretor executivo da ONG Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, que esteve em Curitiba no sábado (22) para uma palestra na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná. A ONG, que há 10 anos se dedica a essa luta, desenvolveu ao longo do tempo ferramentas que fazem um extenso levantamento de informações sobre o poder público e agentes políticos. Tudo isso para auxiliar o eleitor “na decisão de voto”, diz. Afinal, o que realmente deve mover a política é, sim, o interesse. Mas do eleitor.

Gazeta do Povo – A ONG Transparência Brasil se dedica desde 2000 a combater a corrupção. Por que essa “briga” é importante para a sociedade?
Cláudio Weber Abramo - A corrupção se dá quando aquele que é investido de poder público usa esse poder em benefício próprio ou de terceiros. E existe em qualquer país do mundo. Não é só no Brasil. É um risco que existe sempre que há a interação entre o público e o privado. O que se pode fazer para combater a corrupção é evitar ao máximo que ela ocorra, sem que se garanta que ela vai acabar como um todo. Para isso, você tem que eliminar as causas, e esse que é o fundamento e a filosofia que a Transparência Brasil persegue: identificar essas raízes para combater melhor. A corrupção é um mal que subtrai recursos públicos, nosso dinheiro, e os desvia para fins privados, ou seja, prejudica a alocação de recursos do Estado e a todos nós.

GP – Quais são as ferramentas que o Transparência Brasil desenvolveu ao longo do tempo para fazer esse combate?
CWA - A nossa atividade principal é construir instrumentos que permitam ao cidadão fazer monitoramento de diferentes aspectos da atividade do Estado. Um dele diz muito à respeito das eleições é o Excelências, em que a gente coleta, analisa, filtra e agrega informações sobre todos os parlamentares que estejam em exercício nas 55 principais casas legislativas brasileiras, incluindo a Assembleia Legislativa do Paraná e a Câmara Municipal de Curitiba. Lá há informações sobre os processos que eles respondem na Justiça, como gastam o dinheiro que recebem, financiamento eleitoral, casos de corrupção que os envolvem, projetos de lei que apresentam e muito mais. Para o eleitor é muito útil, porque está tudo concentrado em um lugar só. Se o eleitor fosse buscar essas informações sozinho, ele gastaria semanas.

GP – Como a população pode utilizar essas informações?
CWA – Raciocinando e usando as informações na decisão de voto. O voto é, em tese, um ato racional, consciente: “Eu vou depositar o voto a este individuo”. É uma decisão racional, que se toma com base nas informações que se tem.

GP – E quais são os resultados já obtidos pelo Transparência Brasil?
CWA - Ele tem um impacto direto e alto sobre os visitantes principalmente em épocas eleitorais, diminuindo em outros intervalos de tempo, o que é natural. A importância principal de todos os nossos projetos é informar os intermediários da informação, ou seja, a imprensa. Por que é ela que atinge o público. Nosso público direto é parcela pequena. A influencia desses nossos projetos é diretamente proporcional ao aproveitamento que a imprensa faz das informações que a gente disponibiliza.

GP – Como é possível despertar o interesse do cidadão pela política?
CWA – Isso é decorrente de uma única coisa: a capacidade das pessoas identificarem interesses que elas queiram que sejam perseguidos e interesses que elas queiram bloquear. O cidadão participará se ele tiver clareza a respeito dos direitos que ele tem e daquilo que ele quer. E não é algo meramente pessoal. É um interesse de ver o Estado funcionar de determinada maneira. É isso que faz a pessoa engajar-se como eleitor. Ele vai tentar eleger gente que tenha alinhamento com o que quer. Portanto, o que move a política é interesse do eleitor.

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